É funesto para o PSD que cinco meses depois da pior derrota de sempre ainda seja Rui Rio o timoneiro. Ganhou três eleições internas, a Santana Lopes, Montenegro e Pinto Luz e a última a Paulo Rangel. Contudo, o país não o quis, perdeu duas vezes mas legislativas e agora com o estrondo enorme de ter conseguido unir a esquerda, que materializou na maioria absoluta do PS, e muitos moderados contra o medo de uma vitória sua.

Diz Rui Rio que deixou os cofres do PSD cheios, mas está nas lonas de galvanização e optimismo. O seu verdadeiro legado é um partido moribundo e uma marca depauperada. As elites, os jovens, as classes empresariais dinâmicas fugiram-lhe das mãos e procuraram abrigo noutro lado.

E a outra parte deste sinistro legado é que à direita deixou crescer os seus algozes, a Iniciativa Liberal e o Chega, ambos com líderes sentados no Parlamento, algo que não acontecerá ao próximo inquilino da São Caetano à Lapa. E sem um líder carismático e aglutinador que arrebata este espaço político ou alguma forma de convergência, será impossível ao PSD derrubar um PS hegemónico.

É sob este cenário horrível que amanhã os sociais-democratas irão votar. Luís Montenegro tem mais notoriedade nacional e traquejo parlamentar, Jorge Moreira da Silvia tem a força de uma agenda moderna e o contributo dos homens do aparelho que deram anteriores vitórias a Rio.

Quem vai ganhar é uma incógnita até porque este processo eleitoral viveu sob a penumbra da quase clandestinidade, ofuscado pela agenda mediática guerra, Covid e varíola dos macacos. No entanto, não posso de criticar um dos candidatos, Luís Montenegro, que se esquivou a possíveis debates televisivos um pouco à imagem de Rui Rio o que não foi bom para a sua imagem porque é um respeitável democrata, aliás, como o seu oponente.

Nas últimas eleições internas muitos vaticinavam a vitória de Paulo Rangel porque lhe era dado como certo o apoio das maiores distritais, Porto, Lisboa e Braga, mas a máquina de Rio soube convencer os militantes de que ele era o melhor para derrotar António Costa. Ora, esse factor não está agora em cima da mesa, porque há um duro deserto de quatro anos até ao próximo combate nas legislativas. A equação será o de quem fará melhor oposição e consegue vitaminar um partido anémico. Tarefas complicadas para os dois contendores.

O que ressalta desta compita, o que mais os separa? Pouco. Apenas a habitual assombração e complexo do PSD acerca de André Ventura. Montenegro não fecha portas e furta-se a ser inequívoco porque já percebeu que só com o Chega poderá saborear o delicioso perfume do poder, Moreira da Silva vinca linhas vermelhas nesse relacionamento e é clarificador quanto a rejeitar qualquer pacto, aliança ou mesmo conversa. Porém, o caminho do abismo está ali ao virar da esquina. Enquanto tentam sobreviver a esse dilema, o PSD apaga-se. O destino não é auspicioso para os sociais-democratas.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.