A recente subida da inflação e a volatilidade dos mercados, com o índice Dow Jones a registar o seu pior início de ano desde há 99 anos, tem uma origem – os bancos centrais.

Durante anos os principais governos mundiais expandiram as suas máquinas públicas, com impacto da despesa e na dívida pública, financiada com recurso à emissão de moeda e aumento do balanço dos bancos centrais.

A impressão de dinheiro como factor de criação de inflação foi menosprezada e como diz o ditado “primeiro estranha-se depois entranha-se”. Só que o efeito da impressão de moeda era mascarado pela importação de matérias-primas e produtos baratos dos países emergentes. Essa ilusão criou a base para que passasse a ser normal manter défices sem impacto na economia.

A educação financeira passa também por saber que o aumento de despesa tem de ser pago por via de impostos, onde se inclui a desvalorização do dinheiro ou inflação, ou emissão de dívida.

Quer a Reserva Federal Americana quer o Banco Central Europeu (BCE) já admitiram que não perceberam que a inflação não era temporária. O BCE, que jurava a pés juntos, não subir as taxas até 2024 e que a Europa não era os EUA, dão agora o dito pelo não dito, discute subidas de 0,5% nas taxas de juro.

Os bancos centrais têm conseguido cometer erros consecutivos e graves. O primeiro foram os juros negativos no que foi um incentivo ao consumo público e privado sem ter em conta as reais necessidades. Reconhecer este erro colocaria a credibilidade em causa dos decisores à época e dos próprios bancos centrais, mas a factura chegará a quem aproveitou este “incentivo”.

O segundo erro foi ignorar as alterações geopolíticas no mundo e o poder que a China tinha nas cadeias de abastecimento e nos preços que mantinham a inflação a níveis artificialmente baixos. Por último, a energia. Os bancos centrais não perceberam o básico, a energia está na base de tudo. Uma economia para crescer precisa de mais e melhor energia. Ora uma subida dos preços da energia como a que ocorreu consistentemente desde fim de 2020, com as limitações impostas pelo ESG (agenda de sustentabilidade), teria um impacto duradouro em toda a cadeia económica, desde a agricultura, à indústria e serviços.

A manutenção dos juros artificialmente baixos conduziu a excessos nos mercados de capitais, nas criptomoedas e no endividamento da economias. Lembro que a dívida francesa supera os 110% do PIB, a italiana os 150%, a grega 195%, e a americana os 125%.

Adicionalmente o CBO – Congressional Budget Office americano que estima um défice médio anual de 1,6 triliões de dólares nos próximos 10 anos. São mais 16 triliões, 50% do total a dívida publica em circulação que será imprimida até 2032.

Pensar que, neste contexto, é realista subir os juros para 3% nos EUA ou até 2% na Zona Euro é tentar atirar areia para os olhos, e sair ileso da armadilha criada pelos próprios bancos centrais. É o descrédito de todo um sistema financeiro baseado não no rigor, mas na simples impressão de moeda. Não tenho dúvidas que no fim do ano estaremos a falar em reduzir novamente as taxas de juro para evitar a recessão e a falências de famílias, empresas e governos.

Este é um dos factores pelos quais os mercados financeiros, apesar do pior inicio de quase um século, irão recuperar. A desvalorização do dinheiro está ai e para ficar.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.