A internacionalização obriga as empresas a enfrentar a “desvantagem de serem estrangeiras”, resultante de desconhecerem o ambiente de negócios, as leis e culturas de mercados externos. Para além disso, estão fora das redes sociais e de negócios locais, não tendo acesso à informação e ao conhecimento que aí circula.

Para ultrapassarem estas barreiras, as empresas precisam de pessoas com capacidades que vão além de saber línguas e do conhecimento sobre técnicas de negócio internacional. A internacionalização das empresas requer pessoas com um conhecimento aprofundado de várias culturas, costumes e visões de mundo. Capacidades necessárias à atuação de forma eficaz em contextos distintos. Muitas destas capacidades não se obtêm na internet ou numa sala de aula. Requerem experiência, “aprender fazendo”.

Existe uma procura crescente por pessoas que conjuguem competências técnicas com as capacidades necessárias para atuar em mercados externos. As empresas exportadoras, as multinacionais portuguesas e as filiais estrangeiras proporcionam contextos de aprendizagem das capacidades para a internacionalização. O processo encontra-se, contudo, limitado no que respeita ao número de pessoas abrangidas.

A internacionalização da economia portuguesa poderia beneficiar de um mercado de trabalho em que fosse maior o número de pessoas com experiência internacional. Os residentes estrangeiros em Portugal não ultrapassam 4% da população, um valor que pouco se tem alterado nos últimos anos. Existe, todavia, uma nova geração mais aberta ao mundo.

Ao longo de 30 anos do programa Erasmus, mais de 115 mil estudantes portugueses beneficiaram de uma experiência de internacionalização, sendo um pouco maior o número de estrangeiros que estudaram em Portugal. A este número junta-se o dos outros estudantes estrangeiros em Portugal, o dos estudantes e investigadores portugueses no exterior, o dos voluntários portugueses no mundo e, claro está, o dos estagiários.

Neste âmbito merece destaque o programa Contacto, atual INOVContacto, exemplo do potencial de cooperação entre a Universidade, o Estado e as Empresas que, felizmente, tem sobrevivido a mudanças de governo e de políticas. Ao longo das 22 edições, mais de 5.300 pessoas trabalharam e viveram numa diversidade de países; um terço prosseguiu uma carreira internacional.

A atual fase da economia digital abre novas oportunidades para as Universidades participarem ativamente na formação para a internacionalização. Para além dos conteúdos formativos, do ensino em inglês e das experiências de mobilidade internacional existem projetos que visam promover o desenvolvimento destas capacidades.

O X-culture constitui apenas um exemplo. Ao longo de cerca de 2 meses, estudantes de mais de 40 países trabalham em equipas virtuais, compostas por 6 a 8 pessoas de nacionalidades diversas, aprendendo a lidar com diferenças nos fusos horários, no domínio do inglês, nos hábitos culturais, enquanto respondem a desafios colocados por empresas parceiras do programa.

Os professores que acompanham os seus alunos também aprendem pela interação com os seus pares. As empresas beneficiam dos relatórios desenvolvidos por estas equipas multiculturais. Recentemente, o programa alargou a participação a crianças e jovens.

Universidades, Empresas, Estado e Cidadãos podem contribuir para multiplicar experiências de internacionalização que promovam o desenvolvimento de capacidades críticas para agir no mundo atual.