BE e PCP começaram a criticar o Governo (que apoiam) de forma recorrente. Tal parece indiciar que estes partidos receiam que nas eleições do próximo ano a maioria dos votantes se concentre essencialmente em duas categorias: 1) aqueles que concordam com as políticas actuais, e que escolherão quem as está a implementar, ou seja, o partido que está no Governo (concretamente o PS); 2) os que não concordam com essas mesmas políticas, e que optarão pelas forças da oposição que propõem caminhos alternativos (leia-se PSD e CDS).
Bloquistas e comunistas pretendem por isso escapar da zona cinzenta em que se deixaram aprisionar. Mas será que esta atitude mais “refilona” lhes permitirá evitar a “despromoção”, quando já só falta um quarto do campeonato para ser jogado? Será esta (nova) estratégia minimamente credível?
Recorde-se que BE e PCP já votaram favoravelmente não um, mas os três orçamentos do Estado de Mário Centeno; na prática, significa que passaram cheques em branco ao “Sr. Presidente do Eurogrupo”. É por isso que, quando estes dois partidos vêm criticar os cortes no investimento público, as cativações, a degradação dos serviços do Estado, as idas “para além de Bruxelas” no que toca ao défice, bem como a elevada carga fiscal, quase que parece que estão a fazer um mea culpa; e certamente que o eleitorado não interpretará o discurso de forma muito diferente.
É provável que Catarina e Jerónimo já se tenham arrependido da aliança que formalizaram com António Costa. O problema é que agora já é demasiado tarde para se desamarrarem.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.