Em 1900, a população portuguesa era de 5,4 milhões, enquanto a cidade de Lisboa tinha 356 mil habitantes (6,6% do total), tendo subido para, respectivamente, 6,8 milhões e 594 mil habitantes (8,7%) em 1930.
Em 1950, o número de habitantes já tinha subido para 8,5 milhões, com a cidade de Lisboa a mais do que acompanhar esta evolução, atingindo 777 mil moradores (9,1% do total). Até 1970, houve estabilidade demográfica, quer no país quer na capital, devido às perdas com a emigração e a deslocação de tropas e civis para a guerra colonial.
Até 1981, o fim da emigração e a entrada maciça de “retornados” trouxeram um vigor demográfico que se traduziu num total de 9,8 milhões de habitantes no país e 808 mil em Lisboa (relação estável nos 8,9% do total), um máximo histórico para a capital, mas não muito acima dos valores verificados três décadas antes.
Nos últimos 40 anos, a população portuguesa manteve-se estável, atingindo os 10,3 milhões em 2021, tendo caído abruptamente no município lisboeta, entre 1981 e 2001, para 565 mil, para depois diminuir de forma menos pronunciada até 2021, estando nos 546 mil moradores (5,3% do total).
Em resumo, Lisboa tem hoje uma população inferior à que tinha em 1930, quando a população portuguesa era menos um terço do que a actual. Isto é espantoso, quando se pensa em todos as áreas que foram urbanizadas nos últimos 90 anos, incluindo (sem pretender ser exaustivo): Alvalade, Areeiro, Benfica, Carnide, Lumiar, Olivais, Parque das Nações e Restelo.
O que pode explicar que Lisboa tenha perdido 260 mil habitantes, quase metade da actual população, nas últimas quatro décadas? O primeiro candidato é o congelamento das rendas, primeiro em 1948, mas sobretudo em 1974, porque a partir daí a inflação galopante reduziu-as a valor tão baixos, que dificultaram obras mínimas de conservação. Foi isso que gerou a quantidade escandalosa de ruínas que se vêem na cidade, mesmo em zonas valorizadíssimas.
Estas ruínas, a que se somam as originalidades de haver parques de estacionamento minúsculos onde antes havia prédios de habitação, têm também de ser explicadas por inércia e atrasos camarários nas aprovações de obras de construção e reabilitação.
Finalmente, nesta primeira abordagem, simplificada, temos as transformações económicas, algumas inevitáveis, como a terciarização da economia, outras quase obra do acaso, como a expansão do turismo.
Portugal teve um processo de industrialização muito tardio, a partir da década de 1950, que não se completou, tendo o sector dos serviços substituído a indústria como principal actividade a partir dos anos 80. Enquanto aquele se concentra em fábricas, este requer escritórios, que começaram a competir com as habitações no espaço urbano, por mais proibições que se tenham decretado.
Por fim, temos o turismo, um fenómeno demasiado recente para explicar sequer a evolução moderada dos últimos vinte anos, que também veio competir com a habitação. Voltarei ao tema, com mais análise e propostas de solução.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.