Há pouco mais de um ano os 2i9l lançaram o “I See Clouds”, uma bela peça de música que, aplicada à situação económica, se diria premonitória. Com efeito, há talvez nuvens no céu, mas ele continua azul. As nuvens é que são muito cinzentas.

No mercado de capitais estamos com o pior primeiro semestre em muitos anos: as bolsas terão perdido cerca de 13 milhões de milhões de dólares, desde os EUA, onde o S&P 500 perdeu mais de 20%, ou seja, é voltar aos anos 70, e o Nasdaq quase 30%, o pior meio ano desde a sua criação, em 1971. Os títulos do Tesouro não ficaram imunes, desde os EUA, onde perdem mais de 13%, a pior quebra desde o final do século XVIII, à Itália, onde a queda ia em 25%.

Nos mercados cambiais a turbulência é a palavra de ordem: o iene caía mais de 15% contra o dólar, o yuan 20%. A valorização do dólar não é surpresa, pois os EUA são atualmente os campeões mundiais do quantitative tightening e espera-se que a Reserva Federal americana suba a taxa de juro em 75 pontos base este mês, para 2,25% a 2,5%, com o objetivo de travar uma inflação que atingiu 8,6% o mês passado.

Mais, foram criados 372 mil empregos em junho, contra uma expectativa de 250 mil, e os salários estão a crescer “apenas” 5,1% num ano, contra 5,3% em maio – para citar Jonathan Golub, do Crédit Suisse US, “uma recessão é, antes de outras coisas, um colapso do mercado de trabalho”. Ou seja, o copo está meio cheio ou meio vazio, consoante o observador, estamos em pleno “yes, but market”.

A isto somam-se os fatores extraordinários, como – no Reino Unido – a queda de Johnson (o fabricante de escândalos ambulante, como lhe chamava o “Independent”) naquilo que se pode qualificar como os navios a abandonarem o rato que se afunda; na verdade, Keir Starmer disse no Parlamento “o navio que se afunda abandona o rato”, mas parece mais correta a primeira alternativa. Ele referia-se talvez ao Partido Conservador, mas não é claro que com ele, Starmer, e a sua falta de carisma, o Labour conseguisse bater os Tories se as eleições fossem hoje.

Entretanto, o FTSE 100 está a perder só quase 4,5% este ano, mas sobretudo devido ao peso das empresas do setor da energia, onde há ganhos consideráveis – o FTSE 200 vai a perder mais de 20%.

De facto, no Reino Unido, temos potencialmente a situação mais complicada na Europa. A inflação vai em 9,1%, o que levou Larry Summers a recomendar subidas mais agressivas da taxa de juro, e o défice das trocas comerciais no primeiro quadrimestre foi de 21 mil milhões de libras, o dobro do défice homólogo no ano passado.

Vai ser preciso encontrar financiamento externo quando o panorama económico não é brilhante e a época do dinheiro fácil e barato chegou ao fim. Mas o principal desafio de curto prazo vai ser a liderança do partido Conservador. Enquanto o novo líder não for escolhido, o Reino Unido está num “vazio de poder”, e não há vida no vazio.