Os EUA entraram oficialmente em recessão! Curiosamente, Janet Yellen, a secretária de Estado do Tesouro americano, veio rapidamente a público afirmar que, afinal, o que parecia, não era. Ora, uma recessão define-se pela contracção do Produto Interno Bruto durante dois trimestres consecutivos. Yellen tenta redefinir o conceito de recessão e percebe-se porquê.

Por um lado, após a Reserva Federal Americana (Fed) ter imprimido mais de cinco triliões de dólares, induzindo inflação, de estímulos fiscais ao crescimento e de sanções que deviam destruir a economia russa, tornou-se difícil explicar como é que a economia americana está em recessão.

Por outro lado, membros da Fed referiram que o seu trabalho está longe do fim no que diz respeito ao combate à inflação, aludindo à continuação da subida das taxas de juro, o que continuará a colocar pressão na economia americana para aprofundar a recessão ainda mais nos próximos trimestres.

Mas até a Fed tem limites à sua influência. Ao subir as taxas de juro, o diferencial de taxas face ao euro pode aumentar ao ponto de criar um verdadeiro problema à zona euro. Ora, uma pressão sobre as obrigações alemãs irá provocar, indirectamente, uma subida dos juros em Itália, o que é exactamente contrário ao objectivo do Banco Central Europeu (BCE).

Ou seja, se a Fed não tiver cuidado na subida dos juros, indirectamente poderá deitar abaixo os esforços do BCE em conter as pressões dentro da zona euro e contribuir para a implosão de Itália. Neste cenário, a única possibilidade que o BCE tem é a desvalorização do euro, já que a subida dos juros irá ter um impacto brutal nas famílias.

A última década de taxas zero e negativas foi aproveitada pelas famílias, mas retirou qualquer espaço de manobra à política monetária, naquele que foi o maior erro da zona euro.

Entretanto, na Europa, os políticos continuam em negação e o relógio não pára. Para além de, com a desvalorização do euro, pagarmos, este ano, o petróleo mais caro do que os EUA em 11%, o preço do gás é oito vezes superior ao que os americanos pagam. Neste contexto é difícil entender como é que qualquer indústria que dependa do custo da energia irá instalar-se na Europa.

O foco tem sido taxar os ditos lucros excessivos e não alterar hábitos de consumo, reduzir a procura, identificar formas alternativas de produzir electricidade de forma mais competitiva.

A ideologia ambiental, relativamente ao nuclear, e o taxar tudo o que dá lucro, levará a Europa, mais tarde ou mais cedo, a confrontar-se com a realidade – a pobreza dos líderes, que não conseguem implementar uma mudança de hábitos nem converter a sociedade numa economia realmente verde, mas principalmente sustentável, competitiva, inclusiva e acessível a todos os europeus.

Em Portugal continuam os fait-divers, agora com a conferência de milhares de facturas de electricidade. É pela dificuldade que muitas empresas têm em receber do Estado, cumprindo contratos, que os contribuintes acabam por pagar mais. Neste contexto, os mercados accionistas registaram o seu melhor mês desde Abril de 2020, a antever que o dinheiro não é refúgio.

Quem tiver activos financeiros poderá, tal como nas últimas décadas, continuar a contrariar o ambiente de pobreza em que estamos aprisionados.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.