Um “velho do Restelo” diria que já não se fazem recessões como antigamente. Tanta ameaça de recessão nos EUA e a criação de emprego em julho foi de 528 mil postos de trabalho, mais do dobro do antecipado nos melhores cenários.

A taxa de desemprego caiu para os 3,5%, o valor pré-pandemia. A u6, a taxa de desemprego que toma em conta quem não faz diligências para ter emprego mas aceitaria um se lhe fosse oferecido, e quem trabalha a tempo parcial mas queria um emprego a tempo inteiro, é de 6,7%, a mais baixa desde 1994, quando começou a ser calculada.

Quem acredita agora que há uma recessão ao virar da esquina? Pelo contrário, o cenário previsto pelo mercado de futuros dos fed funds para a taxa de juro no fim do ano, de 3,5% a 3,75%, já parece modesto e dá razão aos mais agressivos, como James Bullard, presidente da Reserva Federal (Fed) de Saint Louis, que defende um objetivo de 4%.

Mesmo sem lá chegar, já estaríamos com a subida mais agressiva desde os tempos de Paul Volcker, nos anos 80. O S&P 500, que caiu 21% no primeiro semestre (aos 20% é um bear market) recuperou 9,1% em julho; o Nasdaq ganhou 12,3%. Por outras palavras, o mercado acredita na capacidade da Fed controlar a inflação, ou quer acreditar – vamos ver.

Não é para menos, os lucros das empresas americanas estão a máximos históricos, em valor absoluto e percentagem do PIB. Internacionalmente, o panorama é semelhante.

Na Alemanha, o PIB cresceu misérias, mas o desemprego está ao mínimo de 40 anos; no Reino Unido, cresceu 0,4% nos três meses até maio, depois de cair em abril, mas o desemprego está em 3,8%; na Nova Zelândia o PIB caiu no primeiro trimestre, mas o desemprego está em 3,3%. Que raio de recessão é esta?

Nos EUA uma recessão existe quando oito economistas dizem que existe. É o Business Cycle Dating Committee do NBER que diz se a economia está em recessão, quando começou e acabou. Mas não se sabe depressa, o comité já chegou a dizê-lo 21 meses depois de ela ter começado. Com efeito, o princípio de que há recessão quando há dois trimestres seguidos de crescimento negativo do PIB é isso mesmo, um princípio.

Há que atender a muitas outras dimensões, como a evolução dos salários, das vendas a retalho, da produção industrial ou do rendimento das famílias. Esta é a tarefa do Comité, que trabalha em reuniões às quais não dá publicidade, convocadas por Robert Hall, de Stanford, o chairman, e que têm lugar num terceiro andar do edifício do NBER, com discussões de ‘boca de druida para orelha de druida’.

Em 19 de julho de 2021, o comité anunciou que houve uma recessão um ano e meio antes, entre fevereiro e abril de 2020, a mais curta de sempre. O mundo dormiu tranquilo nessa noite. Oito membros, dá para duas mesas de sueca, se forem verdadeiramente sofisticados, de bridge.

P.S. – Zhao Weiguo está desaparecido. Se alguém souber do seu paradeiro, é favor informar.