Não é só na política que o que parece é, mas também nos negócios, na economia, na vida em sociedade e, de uma forma geral, em todas as atividades com expressão pública. O aforismo estabelece que a realidade é, em primeira instância, a forma como a percebemos, e ignorar como as nossas ações vão ser entendidas é uma demonstração de sobranceria, que acarreta custos, até porque a perceção tem, em muitas situações, o condão de se transformar na própria realidade, sem escapatório possível.
Temos assistido a uma multiplicação deste tipo de casos, em que a intenção manifestada – seja real ou não – é percebida de forma diversa por quem a interpreta, assim como temos visto um cada vez maior número de indivíduos e organizações assumirem que a forma como é entendia a ação pode sobrepor-se à razão que lhe está subjacente. Ou seja, os custos de a intenção que temos não ser entendida podem ser superiores aos ganhos de fazer o que quer que seja.
É por isso que as entidades avaliam, por exemplo, o risco reputacional de operações financeiras, admitindo que este possa sobrepor-se ao seu racional económico, inviabilizando ou tornando possível a sua concretização.
O que aconteceu, nestes dias, com a contratação falhada, pelo Ministério das Finanças, de um consultor para interagir com stakeholders relevantes na economia portuguesa, no âmbito da definição, implementação e acompanhamento de políticas públicas, é um exemplo disto mesmo.
Toda a polémica gerada porque não houve a avaliação de qual seria a perceção desta ação específica mostra que a função de avaliação da forma como os diferentes stakeholders podem entender as decisões é necessária, mesmo que o ministro das Finanças tenha recusado responder se a necessidade se mantém (lá está, outra ação que cimenta a perceção de que, afinal, as críticas que inundaram o espaço público podem ter razão de ser, porque parece que não é a função que está em causa, mas sim quem a desempenha).
E não se trata do primeiro caso a que assistimos no Governo, mas de uma característica, que se acentua com o passar do tempo que é passado em funções.
Achar que todos vão perceber a justeza de uma medida, a bondade de uma decisão ou o valor de determinada ação, apenas, porque sim, é teimar em não olhar o outro, ou, melhor, é insistir em olhar de cima, aqui sim, perdendo-se o contacto com a realidade e motivando a surpresa de quem já se esqueceu de que aquela acaba sempre por se impor.