O simpósio económico de Jackson Hole, nos EUA, reúne anualmente banqueiros centrais, economistas, académicos e decisores políticos com o intuito de discutir a situação económica mundial e as opções de políticas a seguir.

A reunião deste ano ficou marcada pela surpresa das declarações de vários governadores de bancos centrais, que apontam para uma política monetária bastante mais restritiva nos próximos anos, com a excepção do Banco do Japão, que decidiu estabelecer um limite máximo nos juros a 10 anos de 0,25%.

Jerome Powell, presidente da Reserva Federal (Fed), quis deixar bem claro que tudo irá fazer para controlar a inflação, mesmo que isso implique uma recessão económica. Muitos governadores da Fed defendem taxas de juro próximas ou superiores a 4% ainda este ano, o que significa um acréscimo dos juros de quase 2% nos próximos quatro meses.

Não podendo agir do lado da oferta, tendo em conta os constrangimentos provocados pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia, tensões comerciais EUA-China, aumento dos custos com a energia e constrangimentos logísticos, a Fed decidiu atuar pelo lado da procura. Ao provocar uma recessão e a subida do custo do dinheiro, a incerteza acerca do futuro aumenta, pelo que se espera que as famílias e empresas abrandem ou cancelem gastos ou investimentos.

Mais uma vez, os bancos centrais estão a agir tarde, tendo em conta os sinais de inflação registados ainda em 2021, pelo que corremos o risco de se cometerem excessos, desta vez do lado das subidas excessivas dos juros, e de se destruir a recuperação pós-pandemia.

Até os governadores do Banco Central Europeu adoptaram uma postura rara de subida agressiva das taxas de juro. Para a reunião de 8 de Setembro, espera-se uma subida dos juros de até 0,75%, naquela que será a maior subida de sempre. O mercado está agora a descontar que em Dezembro as taxas atinjam os 1,75%, o que contrasta com valores negativos no início do ano.

Este simpósio ficou ainda marcado por várias analogias à época de Paul Volcker. Em 1980, Paul Volcker, governador da Fed à época, aumentou as taxas de juro até aos 20% para conter a inflação, também ela originada pela subida vertiginosa dos preços do petróleo.

Estas referências sugerem que a Fed poderia seguir um caminho agressivo e firme na redução do custo de vida, não fosse um factor diferenciador – o volume e o peso da dívida sobre o PIB. Em 1980, a dívida pública rondava os 33% do PIB, ao passo que neste momento ultrapassa os 127% do PIB, ou mais de 30 triliões de dólares americanos.

A surpresa desta reunião está na urgência das subidas de taxas, mas percebe-se porquê. Assim que as economias entrarem oficialmente em recessão, será difícil explicar aos seus cidadãos subidas adicionais no custo do dinheiro, quando estão a ter dificuldades no supermercado, em especial na zona euro.

A gestão das expectativas e da política monetária pela Fed vai ser crucial para manter a zona euro coesa, no momento em que os alarmes começam a soar com os juros italianos a tocarem os 4%.

O autor escreve de acordo com a antiga ortograa.