Volodimir Zelensky deu esta semana o aviso aos europeus de que o mantra da Guerra dos Tronos, “The Winter is coming”, é algo que está marcado por ferro em brasa no nosso destino comum para os próximos meses.
O líder ucraniano usa esse aviso para subliminarmente, uma vez mais, se assumir como o paladino dos valores ocidentais e o bastião de resistência ao maquiavelismo russo que através da economia pretende assustar os povos da União Europeia, levando-os a pedir que os seus países não concedam ajuda à Ucrânia.
Palavras de Zelensky: “a Rússia quer destruir a vida normal dos cidadãos europeus” com o corte do fornecimento de gás natural. E reforçou: “a Rússia está a preparar um golpe energético contra todos os europeus este inverno. Quer atacar com pobreza e caos político tudo aquilo que ainda não consegue atacar com mísseis”.
Por isso é quase óbvio que este pacote de medidas de apoio às famílias apresentado por António Costa não será o único pois o último trimestre de 2022 e 2023 serão complicados para todos, sobretudo para os mais desfavorecidos. Por exemplo, a Alemanha vai para o terceiro pacote de medidas extraordinárias, entre as apresentadas por Olaf Scholz estão um cheque-energia de 300 euros para os reformados e de 200 euros para os estudantes, para lá de transportes públicos a preços reduzidos. Mas não podemos esquecer que estes 65 milhões ali lançados para apoios são também um doping para a economia que está à beira da recessão, algo que não acontece em Portugal.
Por cá , tiro ao boneco da oposição contra o primeiro-ministro por este ter apresentado tarde os apoios, bem como palavras como “truques”, “fraudes” para qualificar os apoios. Os economistas explicarão tudo certinho, mas o que é certo é que verdade que esta comunicação podia ter sido efectuada mais cedo como aconteceu com outros congéneres europeus. Mais vale tarde do que nunca, porém, podia ter sido muito antes pois as famílias portuguesas vão agora depois das férias sentir a inflação galopante e os salários a minguar.
Politicamente, não há antídotos, mesmo de uma maioria absoluta, contra a crise e contestação social nas ruas que aí vem. Talvez agora, face à situação do mundo em que vivemos, desse muito jeito uma geringonça que metesse no bolso o PCP e, naturalmente, os seus braços-armados da CGTP e sindicatos. Essa solução que parecia presa por arames e que levou o PS ao poder, apesar de não ter ganho as eleições legislativas, parece agora mais eficaz, coordenada e estável que meses deste novo Governo. E, curiosamente, por causa da discussão deste apoio às famílias, quase que ninguém se lembra que a Saúde não tem ministro há mais de uma semana. E o caos continua e parece não ter remédio.