Os últimos anos têm sido prodigiosos na forma como os consumidores olham para os mais variados mercados e bens. A alteração das formas de acesso a serviços, fruto da crescente relevância do comércio electrónico, é tónica mais que suficiente para uma revolução que se sente a cada transacção ou negociação.
O sector automóvel não foge à regra. No entanto, a especificidade desta área implica que outras premissas tenham de ser consideradas, desde logo o sentimento de posse. Esta foi uma tendência criada ao longo das últimas décadas, em especial no final da Segunda Guerra Mundial e a evolução do consumo em larga escala. Desde então, a aquisição de um automóvel passou a ser um dos principais projectos na vida de muitos consumidores, além de um dos principais factores de emancipação e mobilidade geográfica das famílias.
Hoje em dia, porém, cada vez mais automobilistas exploram, a par da aquisição tradicional, diferentes formas de “ter” um veículo para obterem um serviço conveniente, com menor risco, adaptado à necessidade. Assim, os veículos começam a ser vistos, aos poucos, como um objecto utilitário, um “serviço” cujas funções se adequam às necessidades do momento.
Na Europa, conceitos como o carpool ou o carsharing são cada vez mais uma realidade. E, num horizonte temporal de uma década, é muito possível que uma nova forma de olhar para um automóvel passe a ser regra, ao invés da excepção.
Mas olhemos para a realidade em Portugal. É um facto que a compra e posse de um automóvel continua a ser considerada por muitos consumidores nacionais, e assim deverá continuar para a maioria durante os próximos tempos. No entanto, há muitas pessoas a considerar o recurso às formas de locação, como o Renting, o Leasing e o ALD (Aluguer de Longa Duração). Dados do Observador Cetelem Automóvel 2018 sobre esta matéria indicam que mais de dois terços dos automobilistas nacionais ponderam aproveitar uma oportunidade de oferta de locação.
As marcas automóveis apostam em produtos de durações de 36 ou 48 meses, em crédito ou leasing, com mensalidade ou renda final balão, assegurando no final do contrato a recompra do carro ao cliente, como é o caso do Hyundai Open Drive, e que já seduzem muitos dos nossos clientes.
Por outro lado, há cada vez mais sinais desta nova tendência e cada vez mais consumidores que optam por trocar a “propriedade definitiva” pelos “empréstimos oportunos”. Vemos esta realidade a acontecer nos grandes centros urbanos, mas não só, com cada vez mais pessoas a optarem por se deslocar diariamente em viaturas alugadas, por exemplo.
Estas novas formas de utilização temporária em contexto de renting, de rent-a-car, de multi-propriedade ou frotas para negócio ao estilo da Airbnb, necessitam de stock e de financiamento que os bancos irão continuar a assegurar. No entanto, estes modelos de negócio ainda terão de provar a sua viabilidade económica e a sua adequação a quem vive fora dos centros urbanos, onde a sua utilização é mais óbvia.
Neste contexto, em que há uma crescente e potencial procura de alguns automobilistas pela funcionalidade em detrimento do estatuto e da propriedade – seja este um fenómeno de nicho ou um potencial futuro do mercado automóvel –, os agentes do sector devem encarar frontalmente o cenário que lhes é apresentado e repensar de que forma os seus modelos de negócios podem ser adaptados para apresentar uma proposta de valor que responda às modas e às preferências dos consumidores.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.