Já muitos elaboraram que a eleição deste domingo no Brasil é um duelo entre a civilização e a barbárie, entre a democracia e a Porto-ditadura sustentada no crescimento do porte de armas entre os cidadãos brasileiros.
Adoro o Brasil, conheço o seu território é muito bem a sua cultura. É um país rico com pujança para comandar um continente, mas com um povo dividido desde os seus primórdios como o descreveu Gilberto Freyre no clássico “Casa Grande e Senzala”, que retratava a dissonância entre senhores e escravos, uma dicotomia que abriu brechas e separou classes sociais.
Há muitos “brasis”, essa é a verdadeira realidade do país-irmão e chefe-de-fila da língua portuguesa. Se politicamente está fortemente polarizado entre Jair Bolsonaro e Lula, continua como desde sempre fragmentado pelas oligarquias de cada Estado (porque em cada um deles, com a excepção das grandes metrópoles os caciques locais têm um peso extraordinário) e pelas claras divisões sociais que tornam o Brasil um país de muitos milhões de pobres, onde se sente a fome e o analfabetismo, e de milhares de multimilionários.
O Brasil é o país do futuro, escrevia Stefan Zweig. Julgo que lhe falta acrescentar uma palavra: adiado. Assumiu-se como potência mundial nos tempos de Lula e Dilma, conquistou a organização do Mundial de Futebol e dos Jogos Olímpicos como demonstração de soberba de um país que crescia a olhos vistos, contudo, pouco depois, deixou-se atolar na viscosidade lamacenta da corrupção com o “mensalão” que colocou um ex-presidente na prisão, salpicou e afastou a presidente em exercício e decapitou uma das mais poderosas empresas brasileiras, a Odebrecht, que oleava com o seu dinheiro uma série de campanhas políticas desde que começou na Baía até se tornar um potentado continental, conseguindo a proeza de escolher candidatos que lhe valessem mais obras públicas como retrata o fabuloso livro “O Sistema” que não se encontra em edição portuguesa.
Foi no meio deste caldo de porcaria, cimentado na operação “Lava-Jacto”, capitaneada por Sérgio Moro, que surge um indivíduo completamente impreparado mas que fazia da luta anti-corrupção a sua bandeira. Aliás, já foram muitos “cavaleiros alados” que fizeram do discurso anti-corrupção – doença endémica do país quase desde a proclamação da independência- a sua única ideologia o que é curto como definidor de uma visão e rumo para o Brasil, como Bolsonaro é a prova evidente.
O Brasil merecia melhor, merece melhor. Que fique bem claro que entendo que nem Lula nem Bolsonaro servem para relançar o país e retirá-lo das sombras para a luz. São políticos do passado sem qualquer visão ou esperança para o futuro, mas o que é dramático é que olho mais longe e não vejo nenhum outro político no momento com dimensão para comandar o Brasil. Será um tiro no escuro a partir de domingo e espero que a arma do voto seja a única a ser usada.