Num estudo recentemente realizado pela AdC (Autoridade da Concorrência) foi concluído que existem barreiras à entrada das Fintech em Portugal. Estas barreiras estão ligadas ao “enquadramento regulatório” e ao “risco de encerramento do mercado por parte dos bancos”, nomeadamente na existência de entraves no “acesso a dados e infraestruturas bancárias”.
Se no contexto regulatório a barreira à entrada está há muito identificada, traduzindo-se principalmente pela não transposição atempada da PSD2 para o quadro legal nacional, no que respeita ao protecionismo do setor, esta conclusão é curiosa, por ser contrária às reais necessidades daquele, uma vez que necessita de reinventar-se por via da inovação.
E são as Fintech que podem induzir esta inovação ao setor, razão pela qual qualquer medida de protecionismo corporativo constitui uma estratégia desalinhada com a realidade do mercado, principalmente com as necessidades e aspirações dos clientes.
O setor bancário passou os últimos anos focado em si próprio e na sua sobrevivência, focado nos rácios de capital, nas imparidades, nos NPL, nas fusões e resoluções, sem tempo para estratégias digitais e inovação nos produtos e serviços. Perdeu demasiado tempo nos processos de reorganização interna, de redução de efetivos, de venda de ativos e de redução de custos. E ficou sem tempo para inovação e diferenciação, permitindo a emergência dos NeoBancos, 100% digitais.
A inovação não se faz sem tecnologia, assim como a tecnologia sem um fim de nada serve. E é aqui que o papel das Fintech é relevante. Utilizam a tecnologia com um objetivo bem determinado, para resolver um problema que, de outra forma, consumiria recursos dificilmente comportáveis, para inovar na oferta de produtos e serviços bancários, para prestar serviços bancários de forma mais eficiente, com uma melhor experiência de utilização e uma maior capacidade de integração.
As Fintech são os departamentos de investigação e desenvolvimento dos bancos, incorporam a inovação a que os clientes aspiram e que os bancos necessitam, seja na acessibilidade aos produtos e serviços seja na relação com estes produtos e serviços, proporcionando experiências de utilização mais interessantes e diferentes formas de consumo e compra. Independentemente das resistências, o movimento de mudança é inevitável, resulta da pressão das novas gerações e obriga o mercado a transformar-se e a reposicionar-se.
É por isto que os bancos devem considerar as Fintech como uma oportunidade de alavancar as suas estratégias digitais, como um acelerador de inovação e como uma oportunidade para recuperarem o tempo perdido, e não como concorrentes imediatos. Quem melhor incorporar esta visão na sua estratégia corporativa estará seguramente na linha da frente para liderar o mercado no futuro. As Fintech não são concorrentes dos bancos, mas podem muito bem vir a sê-lo. Tudo depende da estratégia.