As recentes previsões económicas do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam para um forte abrandamento da economia mundial em 2023, naquele que será o pior ano desde 2001, com a economia mundial a registar um crescimento de apenas 2,7%.
Estas previsões podem, no entanto, revelar-se optimistas já que os dois principais motores da economia mundial, a Alemanha e os EUA, vão passar por recessões ligeiras, ou seja, pelo menos dois trimestres de contracção em 2023.
Acresce que a subida dos juros e a diminuição do poder de compra dos agentes económicos, pelo efeito da inflação, terão um impacto adicional no consumo e no investimento, reduzindo o PIB.
Os bancos centrais, por seu turno, começam a aperceber-se que estão a cometer mais um erro histórico, com o incrementos dos juros para níveis incomportáveis para muitas famílias e empresas, mas, principalmente, pela retirada dos seus programas de compras de activos que, num momento como o que atravessamos, serviam como suporte ao mercado.
Normalmente, o efeito da política monetária demora seis a nove meses a fazer-se sentir na economia. Por exemplo, quem celebrou contratos de credito à habitação no mês de novembro ou dezembro, e o empréstimo esteja indexado à Euribor a 12 meses, ainda não foi impactado pela subida dos juros, pois a revisão ocorre nesses meses.
O Banco de Inglaterra entrou também no clube, quando o seu governador proferiu aquela que será uma das gafes mais graves de um banco central. Ao afirmar que os fundos de pensões teriam até esta sexta-feira para vender obrigações, uma vez que o banco central iria deixar de actuar no mercado, está a levantar uma suspeita de que algo poderá não estar bem, ao invés de intervir directamente nesses fundos.
Ora, um banco central, até pela sua responsabilidade em manter a estabilidade financeira, nunca deve abdicar das suas ferramentas de actuação no mercado, sob pena de criar maior incerteza, num momento em que todos os agentes económicos têm pouca visibilidade.
Já na Reserva Federal, alguns dos governadores começam a indicar que a partir de Outubro o ritmo da subida dos juros poderá abrandar, tendo em conta os alertas de vários sectores da sociedade para a possibilidade de uma forte recessão.
Por sua vez, no Banco Central Europeu começam as fazer-se ouvir as vozes de que, a partir de Dezembro, o ritmo deve ser desacelerado para os 0,5% em cada reunião.
Investir durante uma recessão é particularmente difícil, e tende a ir contra as nossas emoções, principalmente o medo, que nos tentam proteger do perigo, embora seja nestes períodos que são feitos os melhores investimentos.
Contudo, nunca é tarde para chamar a atenção que, especialmente nestes momentos de incerteza, um investidor apenas deve investir o que tem e pode, para não ser forçado a vender durante períodos de recessão e de queda do preços dos activos financeiros.
O equilíbrio entre medo e ganância é hoje mais importante do que nunca.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.