O capitalismo português é paroquial, como o são, também, o jornalismo, o debate político e a sociedade em geral. Basta aliás ver os noticiários televisivos para constatar a redoma informativa em que vivemos.

O mundo gira à volta do momento do Sporting e do futebol em geral, das incansáveis aparições de Marcelo Rebelo de Sousa (e digo aparições, porque a genica do PR parece mesmo um milagre!), das telenovelas e reality shows, ou dos múltiplos casos da vida mundana, desde um homem que salva outro de morrer afogado aos casamentos seguidos de separações e divórcios das estrelas das socialites, dos espectáculo e da televisão.

A Coreia do Norte, a guerra comercial entre os EUA e a União Europeia, a tomada de posse do presidente russo Vladimir Putin, as crises governamentais noutros países, o problema catalão, a China e o mundo merecem pouco ou nenhum tempo de antena. Portugal vive fechado sobre si mesmo, em vida de freguesia. Orgulhosamente só. Sem mundo e sem pespectiva global.

Tudo isto vem a propósito do coro de protestos contra a eventual compra da Media Capital, um grupo espanhol líder na televisão e na rádio em Portugal, pela Altice, um conglomerado francês com interesses na área das telecomunicações em vários pontos do mundo. O negócio foi agora dificultado pelas objecções levantadas pela Autoridade da Concorrência e, muito provavelmente, acabará por não se concretizar. E é pena. Porque, mais uma vez, Portugal perde uma hipótese de jogar na Champions League dos negócios europeus.

Mas eu explico. Quem acredita que a Media Capital pode sobreviver sozinha, ou é naïf ou ignorante. O mercado das tecnologias de informação e dos conteúdos é cada vez mais global e integrado, e a compra da Media Capital pela Altice abria a oportunidade de um player que opera em Portugal poder ganhar peso neste tabuleiro de jogo. Mas não. O país rejubila com esta espécie de castigo contra os mauzões da Altice, cujo único pecado foi salvarem a Portugal Telecom de um destino fatal.

A ver vamos se com os estratosféricos problemas financeiros dos espanhóis do Grupo Prisa, donos da Media Capital e da TVI, o destino da empresa será melhor do que seria sob o comando da Altice. Para encontrar a resposta, talvez valha a penas olhar para outras fusões falhadas, que estiveram na mesa no passado.

A aliança internacional entre a Portugal Telecom e a Telefonica espanhola, abortada em nome do interesse nacional? Hoje a Telefonica é um campeão nacional no seu sector e a PT foi vendida a franceses, que evitaram que se transformasse num pequeno operador regional condenado a desaparecer do mapa.

A fusão da Optimus com a PT, criando um operador de grande dimensão na Península? Não aconteceu e o resultado está à vista.

A integração do BPI e Millennium bcp, ou de qualquer um dos dois com o antigo BES, criando um grupo bancário que seria o número três da Península? Veja-se o destino de qualquer um dos três bancos, vendidos na totalidade ou parcialmente a estrangeiros, e reduzidos a uma escala regional. E a lista poderia continuar.

Felizes com o falhanço do negócio entre a PT e a Media Capital?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.