Surgiu em 2008 e tem vindo em crescimento desde então. O Grupo Dourogás assume-se cada vez mais como no mercado nacional, como uma alternativa aos combustíveis petrolíferos, principalmente a nível ambiental. Nuno Moreira, CEO da empresa em entrevista exclusiva ao Jornal Económico, fala da evolução do Grupo Dourogás e dos impactos no mercado que esta viaturas podem trazer aos consumidores.
De que forma tem o Grupo DouroGás visto este aumento consecutivo (10 semanas) dos preços dos combustíveis?
Vemos a escalada do preço dos combustíveis tradicionais como o corolário lógico da sobreexposição do petróleo a fatores que repousam em variáveis que em muito extravasam a lógica normal da procura e da oferta. Cada vez mais, os fatores de natureza geopolítica e as dinâmicas macroeconómicas induzem a oscilações, que podem ser de grande amplitude, no preço do petróleo.
Temos atualmente o barril de brent a cotar na vizinhança dos 80 dólares americanos, quando há 6 meses atrás estava pouco acima dos 60 dólares e há um ano atrás rondava os 45 dólares. Por outro lado, temos hoje em dia o câmbio Euro/Dólar a fixar na cada de 1,15, quando no início do ano tocou em 1,25. Ou seja, temos aqui a conjugação de um duplo efeito: a desvalorização da divisa europeia face à moeda americana e o risco commodity, ambos a impulsionar o preço do barril de brent na Europa.
A questão fundamental que hoje se coloca é a de saber até que ponto esta imprevisibilidade e esta montanha russa de preços que dependem de fatores complexos e exógenos à vontade dos agentes económicos são compatíveis com o exercício de uma atividade económica, cuja rentabilidade e viabilidade, está fortemente indexada ao preço do petróleo. A nossa visão, e que de alguma forma tentamos partilhar com o mercado, é de que a vida das famílias, o poder aquisitivo destas e os resultados económicos das empresas de transportes (sobretudo estas pelo peso que o combustível representa no todo dos respetivos custos operacionais) não pode ficar refém de fatores que escapam por completo à necessária estabilidade da curva de custos com os combustíveis. Repare-se que somente nos últimos 4 meses, e de acordo com os dados oficiais da Direção Geral de Energia, o preço do gasóleo simples disparou 11%, ainda assim menos que a variação relativa da cotação internacional do barril de brent, daí que não seja de vaticinar, no horizonte mais curto, uma redução efetiva no preço dos combustíveis derivados do petróleo.
Qual tem sido a evolução do Grupo Dourogás, em termos de crescimento no mercado nacional?
Quando em 2014 iniciámos este trajeto, de aposta na mobilidade a gás natural, prioritariamente vocacionada para o transporte profissional, quer de mercadorias quer de passageiros, estávamos conscientes que estávamos a liderar uma agenda de alteração do paradigma dos combustíveis. A estabilidade dos preços do gás natural, a sua maior previsibilidade e a sua menor propensão a oscilações bruscas de preço, são um elemento fundamental para dar conforto às empresas de transportes e às famílias que, de uma forma consciente e responsável, optam pela tecnologia do gás natural veicular. Tem sido esta aposta, a par do investimento na rede de distribuição (temos hoje 3 postos de GNL e 4 de GNC nas zonas mais densas do território nacional e nos pontos fulcrais das cadeias de transporte) e no enfoque na qualidade de serviço ao cliente, que nos tem conduzido a crescimentos trimestrais consecutivos de dois dígitos, quer no parque de clientes, quer na quantidade de energia disponibilizada ao mercado sobre a forma de gás natural para a mobilidade.
Para além da redução da emissão de CO2, e das poupanças de combustível, que outros benefícios apresentam este género de veículos?
Reduzir as emissões poluentes, num quadro de crescente exigência legislativa por parte das autoridades nacionais e europeias em relação à qualidade do ar, e contribuir para uma poupança nos custos de combustível que em alguns casos supera já os 50%, são motivos mais que suficientes, em nossa opinião, para justificar a aposta no gás natural. Se o gás natural é mais amigo do ambiente, mais económico do ponto de vista do preço final e é compatível com todo o tipo de operações (mobilidade urbana, interurbana, longo curso, operações especiais de recolha de resíduos, etc), então não vemos que sobre razão plausível para que as empresas, as famílias e os agentes públicos não encarem, como felizmente já o vão fazendo cada vez em maior número, o gás natural como uma resposta assertiva em relação aos desafios que a mobilidade representa, hoje e cada vez mais no futuro!
Que impactos esperam que estes veículos movidos a GNL tragam ao mercado?
Quando falamos de impactos, temos uma tendência natural para pensar na fatia mais representativa do setor dos transportes. Hoje em dia estão matriculados em Portugal mais de 10 mil viaturas pesadas. Em termos médios, e segundo as especificações oficiais dos fabricantes, a redução das emissões locais de C02 rondam os 20% e das Partículas poluentes em cerca de 95%. Dou apenas um número que permite ter uma ideia holística da abrangência da temática ambiental: em média, uma viatura pesada movida a gás natural emite menos 80 a 90 gr de C02 por cada km, o que quer dizer que se num ano essa mesma viatura percorrer 100 mil km a gás natural, emite menos 8 toneladas de C02. Multipliquemos esta cifra pelo parque de veículos pesados a circular em Portugal e por um horizonte temporal mais lato, e podemos ter uma ideia infelizmente muito clara quantidade de emissões de carbono que, implicitamente, poderíamos poupar. Já na dimensão económica, os números são de uma transparência inatacável. Temos hoje empresas de transporte que, pelo carácter mais exigente das operações que levam diariamente a cabo, poupam cerca de 2500€ por mês em combustível desde que optaram pelo gás natural. Se equacionarmos que uma viatura profissional tem um perfil temporal de exploração económica de 5 anos, então as contas não são muito difíceis de fazer. São números muito interessantes do ponto de vista dos ganhos financeiros, por isso a procura e a adesão ao gás natural veicular tem sido, particularmente nos últimos anos, expressiva e consolidada.
Além da duplicação do parque de clientes que outros objetivos esperam atingir este ano?
Estamos a fazer o nosso caminho, que teve as suas sinuosidades, próprias de uma desconfiança inicial, quando uma empresa introduz num mercado complexo e competitivo como o dos combustíveis, uma tecnologia que de alguma forma, à data em que iniciámos este projeto do gás natural veicular, era inovadora, disruptiva e de alguma forma pioneira no contexto nacional, apesar de madura noutras geografias, mormente na nossa vizinha Espanha. Hoje, estamos claramente centradas na rentabilização de um investimento, particularmente avultada que fizemos na rede de distribuição, num quadro temporal em que pairavam enormes desconfianças e ameaças face ao potencial de mercado do gás natural. Continuaremos este ano a apostar em novas localizações de infra-estruturas onde o mercado mais reivindica a necessidade de arbitrar uma escolha perante um combustível mais limpo e mais barato, mas acima de tudo mantendo, reforçando e consolidando níveis de serviço com os nossos clientes que sejam o garante de relações sólidas e duradouras. Acreditamos que este caminho, para ser trilhado com sucesso, exige o estabelecimento de parcerias comerciais sólidas e geradoras de benefícios nas várias frentes, e esse continua a ser o nosso grande desafio e o nosso objetivo mais marcante.
Qual vai ser o orçamento dispendido no investimento destas novas viaturas?
As 5 viaturas movidas a gás natural comprimido, por parte da Seat Portugal, ao Grupo Dourogás, têm um investimento superior a 100 mil euros.
Quais são as perspetivas futuras para o Grupo DouroGás?
Afirmar o gás natural como uma alternativa real no mercado da mobilidade e na moldura concorrencial dos combustíveis em Portugal. Temos noção que hoje existe mais notoriedade, maior visibilidade e reconhecimento, mas há ainda muito por fazer nesta matéria. Queremos crescer com os nossos clientes e parceiros e gerar valor acrescentado para a competitividade do setor transportador, cuja importância na economia nacional nunca nos cansamos de enfatizar. Se cerca de 40% dos custos operacionais das empresas de transporte (de mercadorias e passageiros) reside no fator combustível, então creio que no gás natural reside a resposta para a mudança de paradigma na equação de custos destas empresas.
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