O investimento em Tecnologias de Informação (TI) no sector da Saúde em Portugal vai aumentar 7,6% até 2026, de acordo com as mais recentes previsões da consultora IDC – International Data Corporation. A indústria dos cuidados de saúde será o segundo mercado vertical no país com o maior crescimento em termos de TI nos próximos quatro anos, sendo apenas ultrapassada pelos serviços profissionais (8,1%).
A dona do Hospital da Luz considera que, tal como estas estimativas indicam, a inflação não significa uma redução de investimentos, embora seja um “fator de pressão” sobre o orçamento, que obriga os gestores a serem mais racionais na hora de decidir onde aplicar o capital. “Existe uma pressão cada vez maior para o aumento da eficiência dos processos por via da digitalização, ou seja, à custa de investimento em sistemas e TI. Seja como for, o aumento da inflação, por si, não tem de significar uma diminuição no investimento. E quando se fala de tecnologia na área da saúde, muitas vezes o investimento é feito em inovação, que não substitui o que existe, mas acrescenta ao que já existe”, explica fonte oficial da Luz Saúde, em declarações ao Jornal Económico (JE).
No entanto, para essa inovação continuar há um ingrediente que não pode faltar: pessoas. Segundo a Luz Saúde, as organizações têm de saber apresentar aos talentos propostas “atrativas” e coincidentes com este novo mercado de trabalho (mais híbrido), para responder às expetativas dos trabalhadores do sector tecnológico. Na lógica do consumidor, o grupo privado crê que o “cliente decidirá sempre avançar [para a aquisição de uma ferramenta digital de saúde] se precisar ou entender que é isso de que necessita, especialmente se a oferta for inovadora (e, por isso, valorizada)”.
O tema também esteve a debate na Feira do Empreendedor, organizada pela Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), na Casa da Arquitetura, em Matosinhos. Dois dos oradores foram os investigadores sénior da Fraunhofer, Luís Rosado e Francisco Nunes, que mencionaram a questão da eficiência de processos, da expansão da acessibilidade e do alargamento da cobertura quer de rastreio diagnóstico e patologias específicas. “A tecnologia pode ter um papel crucial num ecossistema de saúde descentralizada, em temas como apoiar os médicos na sua tomada de decisão ou melhor o acesso dos doentes a rastreios e diagnósticos precoces. Na Fraunhofer, temos estado a trabalhar nesta direção e temos no nosso portefólio tecnologias que se baseiam no conceito de desenvolver soluções portáteis e acessíveis”, disse Luís Rosado. Francisco Nunes completou: “Temos clínicos e pacientes a interagir à distância e utilizamos estas tecnologias como forma de os conectar, de introduzir alguma inteligência e de garantir que temos sistemas de saúde que sejam eficientes”.
Máquinas de ponta e empreendedores
Mais do que explicar os objetivos para a estratégia digital na saúde, vamos a exemplos concretos da sua aplicação. Uma das inovações mais premiadas este ano foi o dispositivo médico em formato de luva, chamado SenseGlove, que ajuda na deteção do cancro da mama. A startup Glooma, que criou este aparelho para qualquer mulher fazer o seu rastreio em casa, ainda se encontra em fase de testes clínicos, certificação e desenvolvimento de produto, mas está a receber pré-encomendas e prevê que os testes comecem já no início de 2023.
“Apesar de uma possível redução do investimento, considerando uma maior aversão ao risco e o aumento das taxas de juro nos empréstimos bancários, uma grande percentagem deste montante será dedicada à implementação de novas tecnologias na área de saúde, para incentivar a continuidade da transformação digital neste sector. Esta inovação tem de ser garantida de forma a assegurar a sustentabilidade dos serviços de saúde e prevenir novas catástrofes como a de há dois anos com a pandemia causada pele Covid-19”, afirmaram ao JE os cofundadores da Glooma, Frederico Stock e Francisco Neto Nogueira. Ainda assim, alertam para a possível redução nas compras e vendas de equipamentos healthtech. “Cabe ao Estado e aos sistemas de saúde garantirem a possibilidade de aquisição das ferramentas tecnológicas essenciais de forma a contribuir para a prevenção de certas patologias, garantindo a promoção da saúde e qualidade de vida”, sublinham.
Já a Hovione lançou no mês passado, em Loures, uma nova unidade de produção contínua de produtos farmacêuticos, que dispõe de tecnologia avançada. Em causa está uma máquina que assegura um fabrico de fármacos mais rápido, um método que tem ganho relevância entre as farmacêuticas nas últimas décadas.
Por sua vez, a Bayer apostou na vertente dos trabalhadores. A empresa alemã vai, na segunda-feira, inaugurar a nova sede em Portugal – que será relocalizada para o edifício World Trade Center, em Carnaxide – com o objetivo de reunir, num espaço com 1250 metros quadrados, os funcionários num ambiente mais ajustado aos novos modelos de trabalho flexível e mais centrado no bem-estar e na co-criação.
A startup MyCareforce, que criou uma plataforma digital para conecta enfermeiros a turnos disponíveis em instituições de saúde, também tem o foco da tecnologia aliada aos recursos humanos. Na prática, os profissionais inscrevem-se na app e podem preencher os turnos que estiverem disponíveis nas diferentes unidades (como os tarefeiros). Ao JE, o cofundador e Chief Operating Officer (COO) da MyCareforce revela que, atualmente, estão registados perto de 8.800 enfermeiros e cerca de 80 empresas de saúde, entre as quais Grupo Trofa Saúde, SAMS, Grupo Orpea, Residências Montepio e diversas Santa Casa da Misericórdia, onde foram preenchidas mais de 60 mil horas. “Tendo em conta que a saúde é essencial, em crise ou não, o sector tem menos exposição a volatilidade. Claro que há exceções, mas na generalidade, acreditamos que a adesão [à tecnologia] continuará em força visto que estas ferramentas digitais permitem otimizar, ajustar custos e prestar melhores cuidados de saúde”, explica João Hugo Silva. “No nosso caso, permitimos às unidades de saúde publicar e gerir turnos, part-times e full-times, de forma rápida e eficiente, através do acesso a um banco de enfermeiros registados e validados junto da Ordem dos Enfermeiros. Aos profissionais, proporcionamos uma maior flexibilidade e poder de decisão na gestão do seu horário, e ainda transparência nas funções e remuneração”, resume o COO.
É por motivos como este que a farmacêutica Janssen, do grupo Johnson & Johnson, opta pela colaboração com os empreendedores. Ainda este verão convidou um conjunto de startups portuguesas da área da saúde para participar numa formação multidisciplinar sobre o desenvolvimento dos seus negócios. Na “masterclass”, as jovens empresas puderam discutir assuntos como patentes, obtenção de acordos, investimento, preparação para reuniões importantes e dividiram-se em grupos de três para trocar ideias sobre questões como “quais os principais atributos que as empresas de saúde procuram numa parceria?”. No final do dia, a sucesso está no software e nos apertos de mão.
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