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Coleção Berardo pode valer mais de 1,8 mil milhões de euros, segundo avaliação

A avaliação da Gary Nader entregue ontem no tribunal diz que a coleção de 2.339 obras pode valer mais de 1,8 mil milhões de euros. Esta estimativa insere-se na ação principal, da qual depende o arresto da coleção para o cumprimento de garantias a três brancos: CGD, Novobanco e BCP.
27 Outubro 2022, 12h35

A Coleção Berardo poderá valer mais de 1,8 mil milhões de euros, de acordo com uma avaliação da Gary Nader. O relatório da entidade, que deu ontem entrada no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa, e ao qual o Jornal Económico (JE) teve acesso, listou 2.339 obras de arte de mais de 500 artistas.

A avaliação dos três volumes (I, II e III) fixa-se nos 1,5 mil milhões, se a coleção for vendida peça a peça, diz a instituição, mas pode arrecadar até 1,8 mil milhões “se for adquirida na sua totalidade”, um valor que compara com os 316 milhões da avaliação em 2006 feita pela Christies e com 571,1 milhões atribuídos em 2009 pela galeria de arte norte-americana Gary Nader (dos quais 509,5 milhões para as obras incluídas no acordo com o Estado), e que agora volta a avaliar as peças. Com sede em Miami, a Gary Nader fez esta avaliação à coleção, em 2009, a pedido de Joe Berardo.

A leiloeira é uma de quatro instituições que foram aceites pelos bancos, pela Fundação José Berardo e por Joe Berardo, entre outras, para avaliar a coleção no âmbito do Acordo Quadro assinado pelas partes em 2012. Além desta, também a Sotheby’s, a Christie’s e a Philips de Pury & Company estão autorizadas a avaliar a coleção.

A documentação entregue ontem no tribunal servirá para avaliar as condições para o cumprimento dos compromissos decorrentes dos diversos financiamentos feitos pelos três bancos Caixa Geral de Depósitos (CGD), BCP e BES (agora Novobanco). Isto é, serve de base para contestar o pedido de  indemnização por danos futuros apresentado pelos três bancos.

A avaliação insere-se na ação principal da qual depende o arresto da coleção, sob a justificação de que servirá de prova de valorização da mesma e, consequentemente, da garantia prestada aos bancos.

A notícia foi avançada esta quinta-feira pelo Diário de Notícias.

Já em 2006, a leiloeira Christie’s avaliava parte da coleção (volume I) em mais de 316 milhões de euros, no âmbito do protocolo assinado com o Estado para a fruição da coleção no Centro Cultural de Belém (CCB). Essa avaliação foi, na altura, aceite pelos bancos no âmbito do Contrato de Penhor e Promessa de Penhor, celebrado a dezembro de 2008. Segundo a Gary Nader, esse mesmo volume vale hoje 1,4 mil milhões.

A avaliação a que o JE teve acesso, datada de setembro de 2022, vem então avaliar os três volumes em mais de 1,5 mil milhões, o que significa que o valor dos títulos empenhados aos bancos – que correspondem a 49,81% dos títulos ACB – equivalem a, pelo menos, 763 milhões de euros, excedendo largamente o valor de 450 milhões tido pelos bancos como referência para o penhor. Isto quer dizer que a garantia dos bancos mais do que duplicou.

Os três bancos – CGD, BCP e Novobanco – colocaram em 2020 uma queixa nos tribunais relativamente a uma suposta redução daquela que era a sua garantia e exigindo uma indemnização por danos futuros. Segundo o requerimento a que o JE teve acesso, interposto pela Associação Coleção Berardo, a avaliação da Gary Nader vem mostrar que a garantia dos bancos não só não reduziu como quase duplicou.

O acordo celebrado entre os bancos e as entidades ligadas a Joe Berardo para endereçar o tema das dívidas é de conhecimento público e o empresário madeirense chegou a dizer numa audição parlamentar que tinha interesse em fechar um acordo, tendo reforçado recentemente essa mesma intenção. Ao longo deste período, Berardo já pagou mais de 230 milhões de euros aos bancos, através da venda de património e de títulos de participação.

Esta avaliação hoje conhecida vem revelar que as entidades ligadas ao empresário detêm património suficiente para liquidar aos bancos que a reclamam.

Em perspetiva, este número determina que a Coleção Berardo vale quase três vezes o valor total previsto no Orçamento do Estado para 2022 destinado a cultura (644 milhões de euros), e vale mais do que algumas das empresas listadas no PSI.

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