Poucos dias depois de João Cotrim de Figueiredo ter sido eleito o primeiro e único deputado eleito à Assembleia da República pela Iniciativa Liberal (IL), escrevi um texto onde disse que até o Rato Mickey conseguia o mesmo feito pelos liberais naquele momento.
É certo que, em 2022, pode dizer-se que João Cotrim de Figueiredo evoluiu muito desde essa altura e é um líder que se consolidou, com um discurso claro e coerente baseado no seu ideário, com excelente capacidade comunicacional e presença mediática. Que conquistou por mérito próprio um resultado nas urnas que permitiu passar para oito deputados, bem como importantes segmentos de voto nas grandes cidades, tornando também a IL um fenómeno de moda entre a juventude que habitualmente renega e se afasta das questões políticas.
Voltando à figura da Disney, não a referi para depreciar o líder da IL, mas para salientar que esse novo partido tinha montado uma poderosa máquina de comunicação que vinha já dos tempos de Carlos Guimarães Pinto, com o suporte de Rodrigo Saraiva, que trabalhou com enorme qualidade diversas redes sociais e o apoio do marketing político nas ruas, com os criativos “outdoors” do Manuel Soares de Oliveira. Ora, esta teia bem tecida continua em forma e em força e servirá quem vier após a saída do líder.
O anúncio dominical – no dia do falecimento de Adriano Moreira – do abandono de João Cotrim de Figueiredo foi inesperado e inusitado. A sua liderança estava a correr bem, mantinha o seu trabalho no contacto com os portugueses, enquanto calmamente estabelecia novas relações com decisores empresariais e institucionais.
A IL não tinha qualquer oscilação e o seu caminho era ascensional, bem longe de qualquer precipício. Agora, surgem dúvidas sobre como o sucessor fará melhor no futuro.
Disse João Cotrim de Figueiredo que o objectivo é dar espaço para que quem venha a seguir possa tornar mais popular as ideias liberais. Contudo, quando um partido perde um bom líder e dispara um tiro no escuro, há uma roda gigante de incógnitas que se inicia.
Para já, Rui Rocha e Carla Castro apresentam-se para o combate. Sim, apesar de estarem lado a lado esta semana no Parlamento, será um combate. Ambos não têm notoriedade e esse é um trabalho que pode demorar tempo a construir, mas não será esse o problema maior.
A dúvida é como os portugueses, as elites, a classe A/B dos grandes centros urbanos, a juventude, irá encarar esse novo rosto quando já estavam “numa relação” com João Cotrim de Figueiredo. Pois se a IL quer crescer não pode perder a sua base eleitoral. Resumindo, esta novidade de domingo foi apenas uma boa notícia para Luís Montenegro.
PS: até em Portugal se consegue provar que a indústria da pornografia dá muito dinheiro. Os 608 milhões de lucro da Galp até Setembro são obscenos.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.