Em Espanha, desde 2016 que se especulava sobre a possibilidade de o PSOE poder liderar uma solução governamental análoga à conseguida em Portugal pelo PS. É facto que nos últimos quatro anos Pedro Sánchez rumou ao nosso país para várias visitas oficiais, tendo também realizado reuniões de trabalho com o seu hoje duplo homólogo António Costa, com quem tem assinado acordos de cooperação bilateral e com quem criou uma promissora relação de cumplicidade que lhe terá permitido, segundo ele próprio, tirar lições.

Os dois líderes socialistas têm em comum assumirem a chefia do Governo sem terem sido eleitos pela vontade democrática dos respetivos povos. Aliás, Pedro Sánchez integrou no seu último orçamento alternativo soluções comuns ao OE português em matéria fiscal e laboral.

Mas as diferenças parecem vencer.

Os partidos de esquerda que suportam o Governo português: PCP e BE são contra a participação de Portugal na NATO e defendem a saída do EURO, mas acabam sempre por viabilizar as propostas do Executivo. Ora em Espanha, Sánchez vai ter que enfrentar problemas muito mais complexos que reportam à própria identidade do país. E por isso Sánchez terá um problema que Costa não teve: como conseguir governar com partidos que nem sequer têm o mesmo conceito em relação ao país? E também como conseguir governar, nas circunstâncias em que o irá fazer, num sistema bicameral: o Senado e o Congresso dos Deputados? Sistema que na prática significa que todas as leis aprovadas pelo Congresso dos Deputados têm que ser ratificadas pelo Senado, o que dificulta consensos. Para além da corrupção que foi o leitmotiv da queda de Mariano Rajoy, o PP estava com um projeto que se esgotou numa castigadora subida de impostos, desigualdade e confrontação territorial. Mas o grande desafio de Sánchez, para além de reverter estes aspetos negativos, será a aposta da concertação política no pacote das políticas sociais. Aí é que ele irá confirmar a sua destreza.

É muito mais imprevisível o que vai acontecer em Espanha do que em Portugal. Isto porque por cá a esquerda soube convergir e a direita demitiu-se de fazer oposição. O maior partido da oposição em Portugal mudou de líder e guinou à esquerda, estando agora cada vez melhor colocado para ser o vencedor simbólico nas eleições do próximo ano, não por derrotar Costa, mas por impedir que ele venha a governar com maioria absoluta. Tal como o vinho também as estratégias políticas devem estagiar em barricas de carvalho para que amadureçam e evoluam melhor. Era este o lema que devia ser seguido por alguns que, na política portuguesa, reivindicam resultados estratosféricos para o seu próprio partido sem consistência de discurso nem definição clara de rota. Caberá agora a Sánchez, o que desde já se duvida, não acusar parte fraca ao seu camarada luso e equilibrar-se até ao fim da legislatura em 2020.