Esta semana escrevo do aeroporto Francisco Sá Carneiro no Porto à espera de embarcar para Lisboa. O voo está atrasado uma hora e meia. A greve nos comboios, iniciada na passada segunda-feira, afectou também os voos, a começar pela ponte aérea entre as duas cidades, com a maior parte dos bilhetes esgotados e o preço mais elevado que o habitual.
Os trabalhadores ferroviários realizaram a greve contra a possibilidade de circulação de comboios com um único agente. No primeiro dia, e segundo dados disponibilizados pela CP, a greve suprimiu 10 ligações internacionais (66%), 60 comboios regionais (72%), 114 comboios urbanos de Lisboa (98%) e 36 urbanos do Porto (72%).
O Sindicato Ferroviário da Revisão e Comercial itinerante indicou que a adesão à greve obrigou a uma paralisação de 90% dos comboios de mercadorias e de passageiros em todo o país, nas zonas urbanas de Lisboa atingiu os 100% e 95% no Porto.
Os sindicatos que convocaram a greve consideram que a circulação de comboios só com um agente põe em causa a segurança ferroviária de trabalhadores, utentes e mercadorias, e defendem que é necessário que não subsistirem dúvidas no Regulamento Geral de Segurança. Os ferroviários rejeitam alterações ao RGS com o objetivo de reduzir custos operacionais e consideram que a redação do mesmo, em discussão nos últimos meses, deixa em aberto a possibilidade de os operadores decidirem se colocam um ou dois agentes nos comboios. Reparem no “deixa em aberto”. E no que consiste essa falha na segurança? Ninguém sabe. São fornecidos números, dados, evidências? Parece que não é importante explicar.
Quando aparecer o primeiro sindicato em Portugal que proponha uma greve onde os meios de transporte substituam a paralização pela não cobrança de bilhetes, teremos finalmente greves que afectam as empresas e o governo em vez de dar cabo da paciência aos utentes.
Também aprecio quando os sindicatos convocam uma greve numa segunda-feira a seguir a um fim de semana prolongada como a dos comboios. Ou na véspera de Santos Populares na capital como a greve da Trastejo e Soflusa agendada para os próximos dias 11 e 12 de Junho. Deveria existir um inferno especial só para este tipo de decisões.
Ao tribunal arbitral a greve dos transportes fluviais ter sido precisamente convocada em dias de grande enchente e deslocação de pessoas entre Lisboa e a Margem Sul, não lhe pareceu importante e decretou não fixar serviços mínimos para o transporte de passageiros pelas empresas. Os passageiros têm duas pontes, autocarros e carros privados, bicicletas e patins, qual é o problema? E o que pretendem os sindicatos com a greve? “A valorização salarial dos trabalhadores da empresa.” Mas não estamos em tempos de pujança económica como nunca vista e os tempos de austeridade enterrados para sempre no passado?