1. O escândalo que foi espoletado há dias ligando a ex-vice-presidente do parlamento europeu Eva Kaili, uma socialista grega que terá alegadamente recebido “luvas”, configurando atos de corrupção, para promover o Qatar junto de as instituições europeias, é um caso paradigmático da política europeia.
O Partido Socialista Europeu e a própria direção do Parlamento Europeu apressaram-se a condenar e a precipitar a saída da eurodeputada grega. É um caso exemplar de limpeza e proteção da reputação do parlamento europeu, em contradição absoluta com o que fazem os líderes nacionais.
Vários casos têm vindo a público nos últimos meses envolvendo membros do Governo português, entre ministros e secretários de Estado, e ainda autarcas apanhados em polémicas, com vários eles a serem investigados pelo Ministério Público. Um ou outro, como no caso de Miguel Alves, acabou por ser afastado, mas a maior parte dos alegadamente envolvidos em atos irregulares continua em funções.
Não há, da parte do primeiro-ministro nem do Presidente da República, a mínima preocupação com o impacto que estas situações lamentáveis causam na marca país.
E por falar na marca país, o nome de Portugal foi levantado bem alto pela seleção nacional no mundial de futebol do Qatar, com uma participação que chegou até aos quartos de final mas que, na realidade poderia ter ido mais longe.
Ainda estamos para saber, e o futuro o dirá, o que se passou ao nível da concentração da seleção nacional envolvendo o presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), o selecionador, o capitão da seleção nacional e alguns jogadores.
Muitos ainda terão presente na sua memória o caso “Saltillo”, no campeonato do México de 1986, sobre o qual, anos depois, até se escreveram livros e que poderia ter dado uma bela série na Netflix. Acreditamos que o caso Qatar terá algumas semelhanças com aquele caso e com muita coisa ainda por se saber. Os anos farão a história germinar.
A realidade é que este conjunto de atletas que aparece uma vez de geração em geração, está ao nível das melhores de sempre de Portugal, e taco a taco com grandes seleções e equipas que ganharam mundiais.
Portugal tinha não um “onze” mas dois “onzes” para pôr em campo, com todos os atletas de altíssima qualidade e, mesmo assim, conseguiu-se estragar tudo, encostar um dos maiores jogadores de todos os tempos e colocá-lo no banco, e terminar a caminhada aos pés de Marrocos, uma seleção banal que sofre poucos golos, marca poucos golos e joga pouco futebol, mas passou às meias-finais.
Em condições normais, uma seleção comandada por Ronaldo, com tantos e tão bons jogadores, poderia ter sido apurada – se houvesse estrutura na FPF e outros interesses mais altos ligados às gentes de futebol não tivessem interferido, e se, de facto, se preocupassem também com a marca Portugal.
O embaixador de Portugal no Japão, Vítor Sereno, questionou nas redes sociais a insistência da FPF em Fernando Santos. Quem sabe, sabe!
2 . As inundações na Grande Lisboa dizem-nos que o plano de ordenamento do território precisa de ser revisto. Para além das obras infraestruturantes ao nível da drenagem das águas, este não foi um fenómeno esporádico nem resultado das alterações climáticas.
Nos últimos 50 anos registaram-se sinistros semelhantes e o poder político considerou que resolver a situação não dava votos.