As alterações climáticas e a perda de biodiversidade são duas das maiores ameaças que colocam em causa a resiliência dos sistemas socio ecológicos, que sustentam a vida humana. Acresce a este facto, a agravante destas ameaças estarem interligadas.
O nosso planeta não seria habitável sem a variabilidade de todas as espécies e organismos que constituem a biodiversidade, incluindo os serviços prestados pelos ecossistemas como a captura e armazenamento de carbono. Por outro lado, as alterações climáticas são dos principais fatores que estão a levar à perda de biodiversidade, juntamente com outras pressões antrópicas (e.g.: agricultura intensiva, desflorestação, urbanização). A perda de florestas e a degradação dos ecossistemas são uma fonte de emissão de carbono, contribuindo por esta via para as alterações climáticas. Contudo, estes temas têm sido geridos de forma não integrada, com agendas a ritmos diferentes.
O apelo à integração destes temas é particularmente pertinente num momento em que estamos entre a COP 27 do Clima e a COP 15 da Biodiversidade, cimeiras das Nações Unidas onde líderes dos governos, empresas, academia e outros membros da sociedade civil estão focados em acelerar estas agendas. Na COP 27, teve palco o crescente consenso científico e político de que não é possível atingir o objetivo de 1.5ºC do Acordo de Paris sem proteger e restaurar a natureza. Tal facto, conduziu à materialização da Agenda de Adaptação de Sharm El Sheik , que enfatiza a necessidade de desenvolver e financiar soluções baseadas na natureza que promovam a regulação climática, a proteção da natureza e a resiliência das comunidades. Desta cimeira saiu também, um apelo importante dos líderes responsáveis pelo desenho do Acordo de Paris: a entrega de um acordo global ambicioso e transformador para a proteção e restauro da natureza na COP 15 da Biodiversidade.
Na COP 15 da Biodiversidade, a decorrer entre 7 e 19 de dezembro em Montreal, Canada, pretende-se promover a biodiversidade ao mesmo nível do clima, havendo a expectativa de ser este o momento “Acordo de Paris” para a biodiversidade. Esta cimeira, onde estarão presentes 196 líderes mundiais, afigura uma oportunidade para vislumbrar um futuro partilhado onde a sociedade vive em harmonia com a natureza, focada na proteção e valorização da biodiversidade, perpetuando o fornecimento de serviços dos ecossistemas essenciais para o bem-estar e qualidade de vida.
A COP 15 tem como propósito a adoção e ratificação da Post-2020 Global Biodiversity Framework pelos governos participantes. Esta framework estabelece os objetivos a longo prazo para 2050, assim como intermédios para 2030, que foram desenhados para combater os cinco principais fatores de perda de biodiversidade: agricultura, alterações climáticas, espécies invasoras, poluição, produção e consumo insustentável. De destacar, que esta framework inclui metas para conservar pelo menos 30% da área terrestre e marítima, e aumentar os fluxos de capital para ações relacionadas com a natureza, até 200 mil milhões de dólares por ano.
O sucesso destes acordos está assim dependente da gestão integrada da biodiversidade e alterações climáticas, o que configura um desafio complexo para os governos, empresas e instituições financeiras. Tal desafio requer uma ação governativa e privada para o arquitetar de uma estrutura que facilite a transição para uma economia nature-positive, ao integrar a biodiversidade de forma holística nos processos de decisão, garantindo uma proteção e gestão efetiva em estreita articulação com agenda climática.