Está mais ou menos na moda falar de agenda-setting, ou se preferirem, da definição da agenda pública, mediática e até política. São algumas as teorias sociais que se debruçam sobre este assunto, mas são ainda em maior quantidade as opiniões sobre como é que os assuntos mais presentes na esfera pública surgem, quem os define, ou mesmo, se isso existe, como se a definição da agenda se tratasse de “fake news”.
Há quem acredite em teorias da conspiração e na ideia do “Grande Irmão”, e no espectro oposto, quem sempre encontre explicações simples para tudo. Todavia, parece-me ser difícil acreditar numa explicação global para uma certa concertação, mais ou menos visível aos olhos dos mais atentos, sobre quem/o quê define a agenda da sociedade a que pertencemos.
Obriga-me a formação/deformação profissional a questionar os acasos mediáticos, os acasos nos posicionamentos políticos ou os acasos na falta de definição dos mesmos, os acasos nos discursos, os acasos as ausências, os acasos nas viagens de Estado, os acasos nos timings das greves, das demissões, das acusações, etc. Penso que há, no ser humano, um elemento de estratégia mesmo que inconscientemente demonstrado, e mesmo que este seja quase inconsequente da parte de alguns, ele existe até como questão de sobrevivência.
Seja por motivos mais ou menos justificáveis à sombra da ética contemporânea, talvez seja mais honesto se dissermos aos que vamos e o que pretendemos. Esta clareza é especialmente relevante num país como o nosso, um país que, regra geral, lida mal com quem tem um discurso mais assertivo. Na verdade, quem “diz ao que vem” é, mais frequentemente do que não, colocado na mira de ataques de carácter, que se distribuem por razões construídas e que vão desde a uma agressividade latente até à afirmação de que certa pessoa “é frustrada”, ou mesmo e sobretudo se for mulher que “tem é falta de homem”, só para referir alguns exemplos. Mas, esquecemo-nos muitas vezes que a agenda estabelecida está bem em frente aos nossos olhos, basta olhar para os incentivos e ganhos que cada um dos que têm poder e apesar de serem muitos os interlocutores, pelo menos em termos sociais e políticos, podemos ainda estabelecer ligações entre factos e razões. Se fizermos esse exercício talvez consigamos olhar mais diretamente para a realidade que nos rodeia sem nos colocarmos no meio de discussões mais ou menos recreativas, é que a tão conhecida pancadinha nas costas a que nos habituámos é muitas vezes mais letal do que o grito ou o discurso que faz doer alma.