Em Democracias, como a nossa, os governos são responsabilizáveis pelo seu mandato. Como os governos são formados a partir de resultados eleitorais onde a competição é feita entre partidos políticos, estes têm um papel central naquilo que são os governos e as suas respectivas políticas públicas.

A responsabilização dos executivos, logo, dos partidos do governo, é visível naquilo que são as percepções dos cidadãos acerca das acções executivas. Quando os cidadãos têm percepções mais positivas sobre o governo, esse mesmo governo tem maiores probabilidades de ser aceitado no futuro, ou seja, como se uma reserva de “boa vontade para o futuro” existisse, ou como se tal garantisse “pontos extra” a acumular quando se avalia o dado governo.

Porque é que isto é importante se estamos fora do ciclo eleitoral e em período de reflexão natalícia? É importante precisamente porque há quem se esqueça que na política, como na vida, as coisas não são lineares. Ainda assim, Peter Mair em 2009 já reforçava a ideia de que a responsabilidade de um dado governo e a sua resposta a desafios reforçam as percepções positivas (ou negativas) acerca do governo em funções, logo, dos seus níveis de aprovação. Ou seja, afinal é relevante fazer “boas políticas” (seja lá o que isso for, e como são definidas, e porquê, pelos cidadãos).

O oposto também ocorrerá: governos menos responsáveis e responsivos, ao longo do tempo, terão maiores chances de serem penalizados pelos eleitores decorrente das suas percepções. Não parecendo que tal seja absolutamente surpreendente, o que não nos devemos esquecer é que, empiricamente, diversos estudos ao longo das últimas décadas têm demonstrado que políticas que geram satisfação geram, por sua vez, uma certa acalmia na opinião pública – e como isso se propaga no tempo de maneira mais benéfica para os governos que assim actuarão.

Nesta quadra que agora vivemos, o contentamento dos cidadãos é, assim e por essa via, uma espécie de buffer que se consegue num certo período de acalmia, mesmo que tenhamos ficado pelo caminho no Mundial de Futebol. Se o anterior seleccionador e os jogadores tivessem conseguido a proeza de se manter “em jogo”, começaria a desconfiar que o Governo (ainda assim com uma imagem bastante positiva) e, mais concretamente o primeiro-ministro, não deixariam as rédeas do país. Para gáudio de uns e tristeza de outros.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.