A OCDE “descobriu” que o elevador social das principais sociedades capitalistas está “avariado”. A OCDE descobriu que “(…) a situação económica das pessoas em Portugal se transmite fortemente entre gerações (…)”; que “(…) em Portugal pode levar aproximadamente 5 gerações para que crianças nascidas em famílias na parte baixa da distribuição de rendimento alcancem o rendimento médio (…)”.
Mas não estamos mal acompanhados. Estamos perto da média da OCDE (4,5 gerações), ao nível dos EUA, Inglaterra e Itália, e melhor que a França e a Alemanha, que demoram 6 gerações! O que não deixa de ser interessante para aqueles que, diariamente, explicam todos os males e desgraças do país pelos vícios e idiossincrasias (e outras fantasias) da “raça portuguesa”.
A OCDE descobriu, nestes tempos tumultuosos das sociedades capitalistas, que a receita da social-democracia e da democracia cristã pregadas há 100 anos (talvez melhor, desde que irrompeu o “espectro do comunismo” na Europa e, mais assumidamente, depois da revolução russa de 1917), é falsa. Isto é, o dito “elevador social” movido a educação, segurança social e emprego, sob o jugo do capital, não eleva ninguém! Com excepções, para confirmar a regra. A OCDE valida, ao arrepio da sua ideologia, o que os comunistas há muito afirmam: na sociedade de classes do capitalismo, cada classe reproduz a sua classe… Diz a insuspeita OCDE: “(…) 55% dos filhos de trabalhadores manuais crescem para se tornarem trabalhadores manuais”. “Ao mesmo tempo, filhos de gerentes têm cinco vezes mais possibilidades de se tornarem gerentes do que filhos de trabalhadores manuais”. O capitalismo não só produz desigualdades (sociais e territoriais) como as reproduz, agravando-as.
Mas a OCDE descobriu também os velhíssimos remédios das velhíssimas receitas atrás referidas da social-democracia e da democracia cristã (propostas, aliás, de muitos socialistas utópicos): a educação! Mas há inovação: “A falta de mobilidade na parte baixa [do rendimento] em Portugal pode estar relacionada com o elevado nível de desemprego de longa duração (DLD) e a segmentação do mercado de trabalho (SMT)”. Dilemas e questões difíceis sobre que a OCDE terá de reflectir: os do fundo não sobem porque são DLD ou são DLD porque são/estão no fundo? E então os do fundo, empregados e desempregados de curta duração, não sobem porquê? Uma coisa é certa, os do topo não chegam a DLD porque nem a empregados chegam… são ricos a tempo inteiro e de longa duração.
A OCDE não explica como “as suas receitas” são compatibilizadas com as suas orientações de políticas que desencadeiam cortes nos orçamentos da educação e da saúde, nos apoios sociais, na desvalorização do trabalho e dos trabalhadores, no desemprego e maior precariedade.
A OCDE também não explica porque é que o “elevador” está cada vez mais avariado apesar da manutenção e reparações a esmo por conselho e por conta dos peritos da OCDE, e outros da mesma laia.
Percebemos as preocupações da OCDE. Como dizia o Eng. António Guterres: “Se nós não tratarmos dos pobres, um dia os pobres tratam de nós”. l
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