Foi assim que começou o ano nos principais mercados de capitais no mundo, com o pé direito. Um pouco por todo o mundo, os investidores querem esquecer 2022 e centrar a sua atenção na estabilização em 2023 e na recuperação de 2024.

A Europa registou um início de ano que pode ficar para a história, com o índice Euro Stoxx 50 a subir aproximadamente 10%. Todas as perdas decorrentes da guerra na Ucrânia foram anuladas, apesar do aumento de preços da energia e constrangimentos colocados à economia europeia.

Sendo a Europa uma potência exportadora, a política da China em fechar a economia para conter a pandemia teve um efeito bastante nefasto nas perspectivas de vendas das empresas, o que, conjugado com a incerteza interna, a diminuição da confiança dos consumidores e a inflexão da política de taxas de juro, se traduziu na saída dos investidores das acções europeias.

Neste contexto, os bancos centrais desempenham, uma vez mais, um papel-chave na recuperação não só da economia, mas também dos mercados, tarefa que começa a ser difícil após anos de mensagens contraditórias e de descrédito. Ainda esta semana se verificou outro episódio. Depois de Christine Lagarde ter endurecido a mensagem do banco Central Europeu (BCE) na reunião de Dezembro, onde referiu que nas próximas duas reuniões o BCE iria subir os juros em 1%, 0,5% em cada reunião, vem agora uma fonte do BCE afirmar, a partir de Davos, que é possível que os juros subam a um ritmo menor após fevereiro.

Ora, estes tipos de declarações têm efeito imediato nas cotações das acções e obrigações, e não contribuem para o que deve ser a estabilidade dos mercados.

Do lado da Reserva Federal (Fed) norte-americana, temos múltiplos actores em intervenções públicas, o que se têm vulgarizado nos últimos anos e que, associado aos casos descobertos de negociação em acções e obrigações por parte de alguns governadores, em nada contribui para a credibilidade da instituição. E apesar do discurso manter a tónica na subida dos juros, a verdade é que continuamos a assistir ao que ficará conhecido por mais um erro do banco central.

Em Dezembro de 2022, o maior construtor de casas nos EUA, a KB Homes, registou uma taxa de cancelamento de 68%, o que quer dizer que mais de dois terços dos compradores resolveram cancelar a compra, anulando contratos de promessa já assinados, valor que compara com 13% do ano anterior. Sendo este o ritmo mais elevado de cancelamentos, que coincide com a queda dos preços do imobiliário, a forte subida dos juros e o anúncio de despedimentos nas grandes empresas, o ano de 2023 vai, seguramente, ser desafiante em termos de estabilização das economias.

O mercado de obrigações americano continua a descontar uma descida dos juros já este ano, prevendo uma forte desaceleração e até recessão nas principais economias, ao contrário dos principais responsáveis políticos.

Os investidores devem, pois, olhar para portfolios diversificados que incluam estes activos como forma de se protegerem da volatilidade naquele que será um ano turbulento, mas que irá cimentar a próxima recuperação, assente na ascensão de 950 milhões de asiáticos à classe média até 2030, segundo a JP Morgan.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.