Seguramente que os casos agora diários que têm afetado o Governo de António Costa estão a fazer o Presidente da República (PR) pensar duas vezes na ideia que transmitiu à opinião pública, de que a continuidade do Governo só estaria em causa daqui a um ano. Aliás, as declarações deste início da semana do PR, no sentido de excluir qualquer iniciativa para inviabilizar a continuidade do Governo, deixaram no ar a ideia de que a preocupação do PR é mesmo muito grande.
A realidade é que não se pode esperar pelas eleições europeias, porque António Costa está neste momento a braços com uma crise política sem precedentes na história do Portugal democrático. Não há dia, não há semana, que um ministro ou secretário de Estado não esteja envolvido em sérios casos, muitos deles envolvendo corrupção, direta ou indiretamente. A opinião pública – como já começam a revelar as sondagens – está descontente e o país não transmite confiança aos mercados.
Ponha-se na pele de um investidor estrangeiro que vem para aqui e que vê no parlamento partidos de extrema-esquerda já em desuso na maior parte da Europa comunitária, a par de uma instabilidade fiscal gritante; uma banca descapitalizada e desesperada por fusões, e um Governo que não transmite a mínima confiança nem aos seus eleitores nem aos investidores estrangeiros.
Portugal está a viver um momento crítico e todos aqueles que o comparam com o pós -“25 de Abril”, os períodos das várias revisões constitucionais, o caso Santana Lopes, ou mesmo a queda do avião que transportava Sá Carneiro em Camarate, não encontram paralelo com este profundíssimo período de instabilidade política que António Costa está a manter depois de uma pandemia que durou mais de dois anos, de uma guerra dentro da Europa e de uma crise generalizada nas bolsas de valores e no sistema financeiro, a par de uma subida exponencial das taxas de juro e de uma previsível “bolha” no imobiliário.
O país não ainda revela os problemas profundos porque, afinal, os juros continuam a subir, embora a inflação dê sinais de querer abrandar, ou porque o impacto da subida dos juros nas famílias leva alguns meses até à renovação do indexante, que pode ser semestral ou anual. Mas o impacto vai chegar a todos e os mais vulneráveis não terão soluções viáveis e imediatas.
Entretanto, quem está organizado em corporações faz greves ou ameaça com exigências que, sendo justas, colocam em causa a organização da sociedade.
Por tudo isto, é a António Costa que devemos fazer a pergunta: considera o primeiro-ministro ter condições para chefiar este Governo até às próximas eleições legislativas? A verdade é que se trata de uma pergunta com pré-resposta. António Costa não teria outra hipótese senão dizer “não!” Todos os factos o iriam desmentir caso optasse pela resposta afirmativa. E isto porque o primeiro-ministro tem obrigação de analisar o que se está a passar, de pesar os prós e os contras e decidir pelo bem público. Está em causa o regular funcionamento das instituições.
Para o PR, a intervenção no Executivo é um choque. A questão é se António Costa pode ser substituído por um Luís Montenegro ou por um André Ventura. E começa a ser demasiado óbvio que Marcelo Rebelo de Sousa não faz cair o Governo porque a única alternativa que tem chama-se Montenegro com Ventura, estando este último em franca ascensão.