Rishi Sunak dobrou o cabo dos cem dias, que boa esperança é coisa rara nos tempos que correm. Mas a sua vida não tem sido nem vai ser fácil. Convenhamos que não é tarefa difícil para ninguém fazer melhor que Liz Truss, que nem 50 dias durou – na competição promovida pelo “Daily Star”, durou menos que uma alface de supermercado, que valeu o tweet de Medvedev a dar os parabéns à alface.
Mas, depois de ter conseguido estabilizar a economia britânica, está na altura de marcar pontos a lidar com os problemas de longo prazo – as projeções apontam para que o nível de vida da família britânica média em 2030 esteja abaixo do da polaca, o que faria do Reino Unido “um país pobre com algumas pessoas muito ricas”.
Truss não ajuda, mas também é difícil de saber se o prejudica – basicamente, ela tem demonstrado aquilo que se sabe hoje, que é totally unfit para primeiro-ministro do Reino Unido. Se algumas vez dúvidas houvesse, o seu texto no “Sunday Times” e a entrevista televisiva ao “Spectator” eliminam-nas: diz-se vítima de um complot urdido pelo FMI, Joe Biden, o Office for Budget Responsibility e membros do seu partido. Ela, que propôs cortes de impostos sem saber como os financiaria e ficou admirada com as consequências sobre a taxa de juro e a crise financeira que desencadeou.
Rupert Harrison, ex-conselheiro do ex-ministro das Finanças George Osborne, diz que a vê afirmar “sei que dois mais dois são cinco, mas esta velha ortodoxia que me rodeia continua a sustentar a mesma resposta ultrapassada.”
Ora, o principal problema para Sunak não é a entrevista que ela deu nem o texto que publicou, é que ela promete não ficar por aqui – e sabe-se lá que desgastes ainda vai fazer quando os conservadores estão, na sondagem da YouGov do início deste mês, 24 pontos atrás do Labour.
O Reino Unido terá evitado a recessão no final do trimestre passado, mas este ano será o país desenvolvido com pior performance económica. Más notícias para Sunak, que tem tido problemas demais nas escolhas para a sua equipa (Zahawi, Williamson e, agora, Raab) e que tem as maiores greves desde 2011, incluindo NHS, caminhos de ferro, funcionários e professores.
A inflação a 10,5% não ajuda, nem a subida dos juros de 2,25% para quase 4%. Mas o próprio Sunak também não: para atacar o problema da imigração ilegal está a ponderar retirar o Reino Unido da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, para poder deportar rapidamente e ignorar pedidos de asilo de quem clandestinamente atravessa o Canal, algo que já foi avisado por gente do seu partido que será chumbado no Parlamento, pois não querem ver a Grã-Bretanha ao lado de Putin e Lukashenko.
As apostas estão a dar 23% de probabilidade para a sua saída de Downing Street este ano e 52% no próximo (há eleições). O problema não é meter o homem fora. Hoje em dia, no mundo das fake news e das redes sociais de responsabilidade limitada, isso faz-se com alguma facilidade. O problema é quem se mete no seu lugar.