Uma das raízes do populismo e dos radicalismos encontra-se no desespero de largas franjas da população, que se sente ignoradas pelos governos. Governar com propaganda para satisfazer a boa consciência de uma certa “elite” lisboeta e não os problemas da generalidade da população já é mau, mas quando a isso se junta um nível escandaloso de corrupção temos a receita para o crescimento dos partidos mais demagógicos e perigosos.
Há mais de duas décadas que a economia portuguesa está estagnada e se vê ultrapassada por inúmeros países da União Europeia (UE); os salários brutos estão estagnados e os salários líquidos estão em queda, pela voracidade fiscal; a incapacidade de reformar a despesa pública tem conduzido a uma degradação sucessiva dos serviços públicos, com destaque para a saúde.
Perante estes graves problemas, o governo tem-se especializado em fugas para a frente, como se estivéssemos no pelotão da frente do desenvolvimento económico e não a caminhar para o último lugar.
A semana dos quatro dias é uma fantasia que não diz nada aos trabalhadores que ganham muito pouco e que querem é mais salários e não mais tempo livre.
No campo ambiental há medidas e propostas como se estivéssemos à frente da Suécia, mas muitos dos resultantes envergonham-nos. A taxa de reciclagem de lixo que temos (13%) está muito abaixo da média da UE (30%) e nem sequer cumprimos as metas comunitárias.
O executivo determinou o fecho das centrais a carvão antes da Alemanha, como se pretendêssemos dar lições ambientais aos mais ricos. Há o sonho quixotesco (e caríssimo, os contribuintes que se preparem para a factura) de produzir hidrogénio verde em larga escala para exportar, quando o hidrogénio viaja mal e a tecnologia não está ainda madura.
O primeiro-ministro anunciou que Portugal atingirá as emissões de carbono zero em 2045, em vez de 2050, outro lirismo que nem é para levar a sério. Portugal importa 65% da energia que consome, toda ela intensiva em carbono, pior do que a média da UE, não tem feito nada em termos de poupança de energia, e vai chegar antes do que os outros a uma meta que provavelmente poucos alcançarão. Quem é que acredita nisto? Defender o ambiente custa dinheiro e um país pobre tem muita dificuldade em alcançar metas ambiciosas quanto mais fantasias de propaganda.
Finalmente, temos a corrupção, que é um dos maiores alimentos do populismo, sendo de salientar que os novos partidos têm ido buscar votos à abstenção, de cidadãos que tinham desistido de votar, de tal maneira descontentes com a forma como as suas necessidades têm sido ignoradas e pela percepção de corrupção crescente.
A sucessão de “casos e casinhos” a que temos assistido significam duas coisas: por um lado, que, mesmo numa justiça largamente inoperante, o governo tem conseguido ter um número impressionante de pessoas com problemas judiciais; por outro, que há um forte sentimento de impunidade, quer nos convites iniciais, quer na persistência na defesa do indefensável.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.