A minha primeira passa vai para o espírito crítico dos portugueses, que ultrapasse a espuma das ondas da reposição mínima de rendimentos que será “comida” por impostos indiretos absurdos em 2017. Que percebam que o diálogo social – que afinal é uma feira do gado –, é só aparente, com a esquerda nas ruas a ser silenciada por oportunismo político do Bloco e do PC que, em 2016, trocaram a sua espinha por cadeiras no Poder, que não chegarão a ocupar formalmente. Por culpa sua, por terem deixado a sua voz de protesto muitas vezes justificada, mas também, e sobretudo, por falta de oposição séria da direita, daquela em que as pessoas se possam rever. A continuarmos assim, o PS rumará a uma maioria absoluta a fazer lembrar os tempos de José Sócrates, cuja fatura continua pendente de pagamento e de que tantos (espero que a esmagadora maioria) se arrependem.

Uma passa também por uma direita renovada e protagonizada por outros rostos que não os que estão presos a decisões erradas e carrascas do pilar da economia portuguesa que é a banca nacional, e que a impede que a levemos a sério em qualquer crítica que se queira fazer à forma como o atual Governo lidou com o BES, Banif e a nossa CGD. À mulher de César importava ser e parecer e a banca foi sem dúvida a pior marca de água de um governo de direita desde o 25 de abril. A outra marca de água foi o ataque à classe média, que via na direita o seu porta-voz. Não esperávamos outra coisa que não o seu esmagamento por parte da esquerda. Mas da direita, confessa liberal que sou, temos sempre de exigir que seja o pilar do seu eleitorado. E falhou. Por mais que agora tentem defendê-la com discursos de Pirro. Venham as autárquicas. Que mostrem o caminho das pedras que o PSD terá de fazer para se reerguer a tempo das próximas legislativas quando o país estiver a gritar por dinheiro, reformas e rumo.

Uma passa pelas mulheres na política e nas empresas. Mais e melhores mulheres para que Mariana Mortágua, Catarina Martins e uma Assunção Cristas com uma bandeira bacoca como a da abstinência sexual não sejam a súmula do que temos para dar.

Mas a passa mais sentida do ano e da próxima década é pela Europa. Que seja capaz de lidar com os refugiados, com o terrorismo que nos entrou pela casa dentro, que não se deixe vencer por um medo que a conduza a caminhos que não víamos desde a Segunda Guerra Mundial.

Uma passa que é mais de esperança e menos de convicção por um Trump líder mundial em vez de populista, capaz de contribuir para a paz mundial e uma ordem económica ocidental.

Por fim, duas passas mais pessoais. Fez na véspera de Natal um ano desde que me vi obrigada a sair do Económico e deixei de ser jornalista. Para lá de todas as saudades que ficam de uma redação lutadora como todas as outras, fica a ideia de que o verdadeiro Jornalismo pode ser uma espécie em vias de extinção. Não pode, não será. Assim, uma passa pelos jornalistas que têm a coragem de continuar a lutar por um jornalismo de qualidade e despertador de consciências.

E, muito menos importante, mas as passas também são para nós, indivíduos… porque o mundo também deve ser circo e não só pão, uma passa pelo Sporting.