Este número tem um enorme significado nos nossos dias quando pretendemos redesenhar a vida entre edifícios através de novas prioridades que permitam devolver as cidades aos seus habitantes e promover bairros onde tudo pode estar acessível seja a pé, de bicicleta ou de transporte público. Mas será isto realmente importante para o meu Bairro?
Se recuperarmos a visão de Clarence Perry podemos compreender melhor o seu impacto. Em 1923, o urbanista sociólogo norte-americano apresentou o conceito de unidade de vizinhança como resposta à necessidade de uma cidade mais amigável para os seus habitantes, defendendo que é necessário configurar o bairro a partir do caminhar de uma criança. A escola, o parque e área de lazer, as pequenas lojas para promover o comércio local, fatores essenciais à qualidade de vida dos residentes, não podiam estar a mais de 15 minutos a pé. Em Portugal, um exemplo deste pensamento, estudado em todas as Escolas de Arquitetura, é o Bairro de Alvalade em Lisboa, construído entre as décadas de 40 e 60.
Carlos Moreno renova o conceito como uma abordagem centrada na transformação ecológica da cidade, que significa viver diferente e, acima de tudo, mudar a relação com o tempo. Internacionalmente, várias experiências nos têm demonstrado o interesse em compreender melhor o seu significado. Em Paris, a presidente da câmara incentiva a ‘hiperproximidade’ de equipamentos, empregos, parques públicos, comércio e uma variedade de opções de entretenimento, para a construção de uma capital mais inclusiva e saudável com intervenções que ampliem passeios e aumentem as vias cicláveis.
Neste sentido, torna-se evidente que caminhar e pedalar são as medidas fundamentais para compreender e redesenhar cidades. Com esta mobilidade em diferentes locais, escalas, contextos e horários, apreende-se o território nas suas múltiplas redes de sociabilidade e espacialidade. Se compreendemos o papel dos ritmos associados aos meios de mobilidade temos a oportunidade de aprender sobre os modos de estar e encontro na vida quotidiana. Recuperamos, assim, o olhar crítico e abrangente de todos sobre a significativa relação dos fluxos no desenho do espaço público dos Bairros. Estes fatores são determinantes para a localização de atividades significativas que nos permitam trabalhar e distrair-nos juntos tornando as nossas cidades saudáveis e amigáveis.
Perante as transformações sociais e urbanas que vão resultar dos momentos que vivemos, o estudo, dos princípios da cidade dos 15 minutos, permite a todos os que se interessam pela qualidade da vida nas cidades antecipar soluções de desenho do espaço urbano que respondam às mudanças nas formas de trabalhar e consequentes mudanças na vida coletiva que se avizinham.
Em suma, todos devemos preocupar-nos com a qualidade do nosso Bairro e exigir a sua melhoria. Para tal, podemos dar um primeiro passo e desenhar a nossa vida num pequeno raio de tempo de 15 minutos, a partir das nossas casas, e medir quão inclusivo é o nosso bairro nos comércios e serviços. Desta forma, reconhecemos que para assegurar um futuro comum nas cidades, devemos favorecer relações de coexistência plural e proximidade de conexão física na vida entre edifícios.