Com o término da União Soviética e as respectivas consequências para os regimes comunistas da sua área de influência, os Balcãs iniciaram um longo caminho entre perspectivas democráticas e divisões étnico-religiosas cujos nacionalismos, enraizados há mais de um século, não deixam esmorecer.
Quando comecei estudos pós-graduados em Ciência Política, mais concretamente o mestrado, estudei com profundidade a dinâmica desta região. Com especial relevância para o Kosovo e, consequentemente, a Sérvia e a Albânia, sem descurar os outros jogadores da região. Dessa investigação resultou um livro, que só refiro aqui, porque nessa altura, como hoje, e ao contrário dos pensamentos mais optimistas de muitos dos ideólogos das intervenções na área, continuo a manter uma análise céptica do que ali se passa. Mas a minha visão não perdura porque sou teimosa, os factos têm provado que esta zona tem muito mais caminho para andar do que muitos alvitraram. Ainda há pouco mais de um mês, na Macedónia, mais concretamente no parlamento, ocorreram episódios de violência contra a vice-presidente do Partido Social Democrático, Radmila Sekeriska, ou contra o líder do partido, Zoram Zaev, que são mais profundos do que algumas possíveis desculpas de cariz pessoal. Parece que os actos cometidos por membros do partido conservador e alguns nacionalistas (uns puxões de cabelo e uns encontrões) e não só, são de menor importância, mas não são. Estes episódios, como os relatos de violência entre a população muito desvendam sobre o ambiente mais ou menos desconhecido na região.
O jogo internacional também não tem ajudado a região: desde interesses geoestratégicos (antigos), a empresas interessadas em processos de reconstrução com volumes de negócios avultados, passando por redes de tráfico dos mais variados produtos, inclusive de seres humanos, tudo ali grassa devido a Estados mais ou menos falhados e a apoio internacional mais securitário do que efectivo. Nem sempre “se ensinou a pescar” e nem sequer sempre “se forneceu o peixe”. O Problema (os variados problemas) é maior do que parece e tem muitas camadas, algumas óbvias outras nem por isso. Afinal a Rússia continua a jogar muitos dos seus trunfos na região sem esquecer os EUA e os países da NATO.
O jogo interno não fica atrás. A grande fragmentação partidária, políticas populistas e uma confusão ideológica (adicionando uma dificuldade por parte das populações de destrinçar o que é de direita ou de esquerda), clientelismos reconhecidos e os impactos económicos dos últimos anos (coma, por exemplo, uma taxa de desemprego jovem muito elevada), têm contribuído para incendiar a situação e aumentar a força dos três mais antigos problemas da região e que já referi: divisão étnica, nacionalismos e diferenças religiosas.
A União Europeia (UE) tem procurado (muitas das vezes sem sucesso e com consequências mais nefastas do que positivas) agir aqui e ali no território da ex-Jugoslávia mas ainda que muito parcialmente. Dez anos depois de eu ter escrito a minha dissertação de Mestrado, continuo a defender que a História ali faz-se de muitas histórias e nós, europeus da UE, temos que olhar para esta zona com os seus casos específicos, procurar analisá-los e agir de acordo com tal de uma maneira menos sobranceira e mais pragmática. É que os Balcãs estão aqui tão perto e a História dos últimos séculos do Velho Continente esteve sempre, directa ou indirectamente, ali ancorada. Afinal, será que nos podemos dar ao luxo de continuar a esquecer-nos disso?