A Casa da Música é um edifício notável. Foi descrita pelo New York Times como uma das mais importantes salas de espectáculos construídas no século XX, e ainda me lembro do impacto que teve em mim da primeira vez que a visitei. Recentemente, tive o privilégio de assistir ao ensaio da orquestra conduzida pelo maestro russo-britânico Gabriel Prokofiev (neto de Sergei), interpretando os seus trabalhos extremamente dinâmicos e originais.
É por isso com enorme satisfação que vejo a Casa da Música celebrar, ao longo de 2017, o Ano da Música Britânica. São quarenta eventos ao longo do ano que abarcam mais de cinco séculos de música britânica. De Thomas Tallis a Henry Purcell, de Edward Elgar a Benjamin Britten, passando por compositores mais modernos como Harrison Birtwhistle (o Compositor em Residência em 2017), James Dillon e Ryan Wigglesworth.
Em parceria com a Casa da Música, o British Council está também a organizar uma série de eventos durante o fim-de-semana de abertura para dar a conhecer os quatro principais compositores britânicos – Philip Venables, Edmund Finnis, Emily Howard e Daniel Kidane –, promovendo paralelamente um debate sobre o impacto da saída do Reino Unido da UE na indústria musical europeia.
Todos estes compositores serão embaixadores de um dos destinos culturais mais vibrantes e prósperos no mundo. Em 2014, quase 10 milhões de amantes da música visitaram o Reino Unido para assistirem a um festival de música ou a um concerto, gerando receitas na ordem dos 3,1 mil milhões de libras (cerca de 3,5 mil milhões de euros).
Portugal tem também uma longa tradição de festivais de música, que atraem milhares de jovens britânicos todos os anos e que contam com a presença frequente de bandas britânicas: em 2016, os bilhetes para os Radiohead no NOS Alive esgotaram rapidamente. Este ano, lendas da música como Sting e Depeche Mode passam por Portugal.
É simbólico que um Ano de Música Britânica se realize numa cidade com uma ligação tão profunda ao Reino Unido. Em 1678, um comerciante de vinho de Liverpool enviou as primeiras garrafas de vinho do Porto para o Reino Unido. Nos séculos seguintes, os nomes Cockburn, Croft, Dow, Graham, Offley, Taylor e Warre tornaram-se sinónimo da comunidade britânica no Porto. Hoje, a “ligação” britânica prospera, com a comunidade a aumentar e novos negócios a crescer na área da tecnologia e das indústrias criativas.
2017 trará, sem dúvida, desafios políticos significativos, num momento em que negociamos a nossa saída da União Europeia. À medida que trabalhamos com os nossos colegas europeus para construir uma relação madura e de cooperação, continuaremos a celebrar os laços que unem a mais Antiga Aliança. Da música às artes, do comércio à indústria, talvez não haja nenhuma outra cidade em Portugal que melhor simbolize a proximidade entre os nossos dois países.