E eis-nos chegados a 2019. Será um ano importante, já que decidiremos o futuro do país para os próximos quatro anos. Mas a batalha eleitoral já começou a fazer-se sentir nos finais de 2018. Aliás, a contestação ao incumbente, quer no Parlamento por parte da oposição, quer por parte dos partidos que apoiam a actual governação, quer nas greves em curso quer nas anunciadas, entre outras manifestações de descontentamento públicas, indiciam que o período eleitoral se aproxima.

Gradualmente, vão ficando para trás as ideias de um passado recente sobre a crise financeira e económica, ainda que ventos de instabilidade pareçam querer recomeçar a soprar nas economias dos grandes países europeus. Quer seja para percebermos possíveis futuros, quer seja para compreendermos melhor um passado que ainda nos afecta, analisar como é que os diferentes governos agiram em tempos recentes de crise não me parece despiciendo. Por estas e outras razões pude publicar recentemente, em conjunto com um co-autor, um artigo na “West European Politics” relativamente ao posicionamento dos partidos de governo no que diz respeito à crise que vivemos recentemente.

Em boa verdade, não é expectável que os partidos políticos reajam de maneira idêntica a este tipo de eventos. Isto, sobretudo, porque poderemos intuitivamente perceber que, dependendo dos seus poderes e responsabilidades, do facto de estar ou não no Governo, por exemplo, as suas acções serão distintas. Mas tal ideia não é nova, estudos anteriores já se debruçaram sobre esse tema (caso das análises de Bawn e Somer-Topcu, 2012 e Schumacher et al., 2015). Contudo, a nossa argumentação traz algumas novidades, sobretudo porque se aplica à realidade europeia de reacção à crise.

Temos como base a ideia de que eventos tão fortes como uma crise económica e financeira terão um grande impacto nas posições dos partidos políticos, sendo que esse impacto é mais notável nos partidos de governo do que nos que se encontram na oposição. Ainda que os partidos na oposição possam sublinhar uma demanda de acção do governo, é o executivo que terá que mudar mais as suas posições ao nível económico para combater (mesmo que simbolicamente) os impactos deste tipo de crises. E concordemos ou não com esta ideia inicial, em boa verdade pudemos provar esta nossa posição com dados de 23 democracias europeias, nas quais se inclui Portugal.

Assim, e com a nossa comparação de 143 alterações programáticas de 34 partidos de governo e de 109 partidos de oposição, provámos que apesar de os partidos terem algumas reticências, lato sensu, em mudar as suas posições (logo o seu discurso) sobre aspectos económicos, o mesmo aconteceu de maneira mais sistemática com a crise e para os partidos que estavam no governo. Todavia, a direcção destas medidas ainda terá de ser mais refinada: alguns partidos tomaram medidas mais de direita e outros mais de esquerda, de acordo com a leitura social que fizeram, acreditamos nós, do seu eleitorado. E é nessa perspectiva que volto, então, para o ano de 2019, em que teremos eleições.

Apesar de no nosso artigo não termos analisado os últimos quatro anos, parece-me importante reflectir sobre o tipo de políticas que a crise implicou para todos, para os partidos no governo (na altura ao centro, ora um pouco mais à esquerda, ora um pouco mais à direita) e para os partidos na oposição. Sabendo-se que foram momentos mais extremos em termos de reacções, não deixa de ser relevante verificarmos como agem os nossos representantes, já que se parecem aplicar as palavras de Foucault, ao inverter a lógica de Clausewitz, quando afirma que “a política é a guerra continuada por outros meios”. Será?

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.