Esperava-se que o ano de 2021 fosse o de finalização da pandemia, mas será que 2022 assistirá ao seu final?

Esperava-se que o ano de 2021 fosse o de finalização da pandemia, tendo-se iniciado com o processo de vacinação, justificando algum optimismo. Infelizmente, não foi, com a variante Delta a expandir-se e, no final do ano, a Ómicron.

Mais surpreendentes foram duas consequências inesperadas: a ruptura das cadeias de abastecimento e a subida do preço das matérias-primas, em particular dos combustíveis, em especial o gás natural, que fizeram regressar a inflação e, mais do que isso, o fantasma do regresso à Grande Inflação dos anos 70.

Ainda que para muitas economias já se tenha regressado ao nível de actividade de 2019 (mas ainda não para Portugal), ainda não se chegou à tendência de crescimento anterior e menos ainda a uma “normalização” da actividade, ainda que seja um novo normal.

Para além disto, 2022 inicia-se com um tema geopolítico, que poderá ser explosivo, embora as coisas tenham acalmado nas últimas semanas: uma potencial intervenção militar da Rússia na Ucrânia. Para além de tudo o mais, será possível a utilização russa da arma do gás natural, fazendo subir os seus preços, acentuando as tensões inflacionistas e forçando a mão do BCE.

No novo ano deverá iniciar-se o ciclo de subida de taxas de juro por parte dos principais bancos centrais, que, ao contrário do habitual, é motivado por pressões inflacionistas pelo lado da oferta e não da procura, o que cria o risco acrescido de atrasar o processo de recuperação. Pior ainda, há o risco de a subida de preços diminuir o poder de compra dos consumidores no curto prazo, deprimindo a procura e, assim, contribuindo para o abrandamento económico.

É também provável a continuação da primeira crise energética da transição climática, talvez com menor gravidade económica, mas que poderá ter uma crescente expressão política, se os eleitorados se começarem a mostrar agastados com os preços dos combustíveis e com os esforços que lhes estão a ser pedidos para contrariar as alterações climáticas.

No caso de Portugal, o ano inicia-se com eleições legislativas antecipadas que, com elevada probabilidade, deverão produzir um resultado de difícil governabilidade. Ainda que se admitam alguns equilíbrios iniciais, reconhece-se que estes serão precários, sendo provável a necessidade de novas eleições mais tarde ou mais cedo.

É certo que a estabilidade de um mau governo seja indesejável, mas a indefinição e precariedade da nova solução governativa não deverão ser muito amigas do crescimento económico e menos ainda das reformas de que país precisa há décadas.

Não está em causa a trajectória de retoma da actividade, mas antes o seu ritmo, que também poderá ser dificultado pela dificuldade crescente das empresas em recrutar trabalhadores.

Em resumo, 2022 deverá ser mais um ano de crescimento assinalável, sobretudo por ser de recuperação, mas ainda enfrentando dificuldades, algumas das quais ainda imprevisíveis.