As eleições, sejam elas quais forem, geralmente dão azo a vários desabafos mais ou menos fundamentados sobre os males do nosso sistema político, a nossa democracia e o geral estado do Estado português.

Nas últimas semanas e meses (maioritariamente devido à campanha eleitoral para as eleições), um pouco por todos os cafés do país e na arena pública que são as redes sociais, os partidos como assunto relevante veio à tona como a via através da qual políticos (por norma corruptos, assim se assume) se aproveitam do sistema.

Nesta senda vou resistir a “atirar-vos” com as histórias desta semana: das lideranças, dos resultados absolutos e simbólicos das últimas eleições, ou mesmo do papel dos partidos políticos em movimentos nacionalistas, como o caso escaldante destes dias: a Catalunha. Afinal, e como os leitores que por aqui circulam já se devem ter acostumado, tendo a escrever do que é actual mas muito menos do que “nos aquece e mais do que potencialmente nos queima”.

Os partidos políticos são, “taco a taco” com os políticos, como referi, vistos como uns dos grandes males da sociedade. Haja razões sustentadas em factos ou não sobre estas percepções, a verdade é que os primeiros são essenciais para a dinâmica estatal. A noção dos partidos como algo mau é, para a maioria dos indivíduos, baseada mais numa certa intuição do que é a realidade e, portanto, fundamenta-se, não raras vezes, mais em crenças e até avaliações falaciosas do que noutra coisa. Mas atenção, não faço aqui a cobertura cega dos mesmos, até porque tenho para mim que estes são, muitas vezes, as raízes de coisas menos boas, como a descrença na Democracia e até na política em geral, mas não sempre.

Quer queiramos quer não, os partidos, sendo entidades que representam e organizam certas preferências da e na sociedade, ao organizarem os interesses de forma institucionalizada com a representação política nos órgãos do Estado como expoente máximo, são fundamentais para uma sociedade saudável. O raciocínio sobre isto parece simples, mas não é. E mais parecem os partidos desnecessários quando usamos como base de reflexão certas lógicas de “desconstrução”, cujo exemplo mais flagrante é o de Trump.

Todavia, pensar assim é enganar-se em vários níveis porque decidimos ser simplistas. Por mais que gostássemos, os estados, também o português, não são ONG com ideais de altruísmo e intentos de “salvação das almas”. Os estados contêm em si interesses antagónicos que são, normalmente, moderados no sentido da sua convivência através dos partidos. Esses, tantas vezes tão longe de serem “senhores de bem”, são ainda a garantia de uma possibilidade de responsividade pois no futuro, enquanto entidades com funções públicas e para o público, têm que ser chamados às suas responsabilidades (pela glória ou pela infâmia) e isso, meus caros leitores, não é pouco.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.