Há duas semanas referi que do analfabetismo da quase totalidade da população passámos à iliteracia digital, ao elevado abandono escolar no secundário e à escassez de pessoas com mais do que o secundário. Esse é o retrato que nos oferecem estatísticas várias a nível mundial e europeu. O problema emana da creche e prossegue no primário. A economia portuguesa precisa de muitas mais pessoas capacitadas em STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) e, pelo menos, com noções básicas de gestão. Entretanto, o retrato ficou mais feio com a publicação do relatório do World Economic Forum.

A nível universitário e politécnico as coisas estão a mexer. Desde 2016 que o mestrado em Gestão da Universidade Nova de Lisboa oferece uma nova área de expertise em Digital Business. A Nova refere que hoje, na maior parte dos negócios, mesmo nos não-técnicos, a tecnologia tornou-se central ao modelo de negócio e é um elemento estratégico crítico porque permeia todos os aspetos da organização. É preciso saber o que se pode fazer com a tecnologia e onde pode ser aplicada.

Na área do Grande Porto, as empresas de base tecnológica estão a sentir dificuldades em contratar profissionais com conhecimento nas áreas do digital. Para dar resposta a esta procura foi recentemente lançado o programa Switch. Trata-se de uma pós-graduação de dois semestres para conversão de licenciados para a área das tecnologias de informação e comunicação. O programa assegura estágios remunerados em empresas tecnológicas associadas no Porto Tech Hub e resulta de uma parceria com o Instituto Superior de Engenharia (ISEP).  Foram recebidas mais de 200 candidaturas provenientes de graduados desde a biologia às engenharias, passando pelas ciências e gestão.

O que fazer para aumentar o crescimento da produtividade, perguntou Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, na conferência de homenagem a Henrique Medina Carreira organizada pelo Fórum para a Competitividade. A intervenção de Carlos Costa é uma lição que merece ser lida com cuidado. Aborda o mais recente pensamento económico sobre como sustentar níveis de bem-estar mais elevados e oferece, em resumo, a seguinte resposta:

“Estudos económicos recentes sugerem que as grandes diferenças de produtividade entre empresas e países são explicadas por dois fatores: inovação tecnológica e qualidade da gestão. Isto significa que para aumentar o crescimento da produtividade é fundamental que cada país defina e implemente medidas que promovam a inovação e a qualidade de gestão pública e privada.

“Adicionalmente, a produtividade e a boa gestão permitem às empresas uma participação ativa no comércio internacional, idealmente nas etapas do processo produtivo que geram maior valor acrescentado. (…) A inovação é precisamente uma das etapas do processo produtivo com maior valor acrescentado. Por seu turno, o comércio internacional permite uma aprendizagem e a incorporação de tecnologia, que depois se refletem em maior produtividade.  Este ciclo virtuoso de inovação-gestão-produtividade-comércio é fundamental para sustentar níveis de bem-estar mais elevados.”

Basicamente, o roteiro conceptual estratégico é o seguinte: [tecnologia + gestão] > inovação > produtividade > comércio internacional > tecnologia > produtividade > mais bem-estar.

Esta conferência realizou-se no exato dia (28 de setembro) em que foi divulgado o último relatório do World Economic Forum sobre a competitividade dos países – The Global Competitiveness Report 2017-2018 (GIF). Esse relatório não é bonito para Portugal. Segundo o GIF, a economia de Portugal ocupa a 42ª posição em 137 países. Alguns exemplos: Suíça 1º, Holanda 4º, Suécia 7º, China 20º, Irlanda 24º, Espanha 34º, Índia 40º, Hungria 60º.

O GIF é laborado a partir das respostas de executivos de empresas de todo o mundo a um complexo questionário dividido em 12 pilares. Foram validadas 12.775 respostas de 133 economias, das quais 206 sobre Portugal.

Os problemas detetados podem agrupar-se nos seguintes grandes grupos (índice entre parênteses): a) Com origem no Estado (burocracia governamental ineficiente 19.1, taxas dos impostos 18.7, regulamentação laboral restritiva 13.8, instabilidade das políticas 13.1, legislação fiscal 6.5, instabilidade governativa 2.8); b) Financeiros (dificuldade de financiamento 10.2, inflação 0.5, flutuação cambial 0.3); c) Empresas, capacitação das pessoas e ambiente de trabalho (insuficiente capacidade para inovar 4.8, força de trabalho com educação inadequada 4.5, fraca ética laboral 1.2); d) Infraestruturas (inadequada 1.2); e) Saúde (0.1); f) Crime (0.0).

O resumo do GIF sobre a economia da Suíça, que ocupa o primeiro lugar, oferece indicações sobre como fazem os melhores. Os resultados são fortes e equilibrados nas diversas componentes da competitividade. O desempenho da economia beneficia de elementos fundamentais sólidos que incluem saúde pública, educação primária e um ambiente macroeconómico comparativamente sólido. A economia tem um elevado nível de flexibilidade e o seu mercado de trabalho é globalmente o que melhor funciona a nível mundial. A absorção de novas tecnologias é elevada, com um segundo lugar geral no que respeita a preparação tecnológica e de negócios. A Suíça melhorou os seus resultados no setor de ambiente de sofisticação e inovação defendendo a sua posição de número um nestes dois importantes pilares.