[weglot_switcher]

Arruada do CDS-PP na Baixa de Lisboa foi atração turística enquanto Cristas tentou reavivar espírito das autárquicas de 2017

Muitos turistas, poucos eleitores portugueses. “Foi uma ação de campanha talvez na rua mais europeia de Portugal”, tentou justificar Nuno Melo. “Provámos em Lisboa que não havia impossíveis”, recordou Assunção Cristas. Ao longo da rua Augusta, ontem, ao final da tarde, a comitiva do CDS-PP deparou com duas faces do passado recente de governação: a “explosão turística” e a “lei das rendas”.
  • Nem sempre os eleitores estão recetivos à mensagem dos partidos. Foi o caso de uma mulher que tentou agredir Assunção Cristas durante uma arruada no Porto. A mulher foi prontamente afastada e Cristas continuou a campanha dizendo que “este tipo de situações são inaceitáveis”.
23 Maio 2019, 07h48

Assiste-se a um choque cultural quando um jovem espanhol se aproxima da comitiva do CDS-PP, sob o Arco do Triunfo da rua Augusta, em Lisboa (ontem, ao final da tarde), atraído pelo som festivo e divertido da Original Bandalheira Fanfarra – uma banda itinerante que toca em casamentos, baptizados, festas gastronómicas ou, neste caso, uma arruada do CDS-PP na campanha das eleições para o Parlamento Europeu.

Ora, um jovem militante da Juventude Popular vira-se e entrega um panfleto com o rosto de Nuno Melo, cabeça-de-lista do CDS-PP, ao jovem espanhol. Segue-se então o breve diálogo que passamos a transcrever:

_ Qué es esto?

_ É do partido CDS, para as eleições europeias…

_ Ah! Yo soy anarquista!

_ Anarquismo?

_ Sí, estoy en contra de todo tipo de poder.

O jovem anarquista espanhol perde o interesse na Original Bandalheira Fanfarra assim que se apercebe de que, inadvertidamente, está no contexto de uma iniciativa de campanha partidária para as eleições europeias. E afasta-se da comitiva do CDS-PP que inicia a sua marcha pela Rua Augusta, ao ritmo da banda e do não menos frenético Nuno Melo, acompanhado na dianteira por Assunção Cristas, líder do partido, também a passo de corrida.

A cena inicial replica-se ao longo de quase todo o trajeto: em vez de eleitores portugueses, Melo e Cristas deparam-se sobretudo com estrangeiros e turistas. Mesmo não sendo anarquistas como o jovem espanhol que recusou o panfleto, digamos que não estão propriamente receptivos às propostas políticas do CDS-PP para a próxima legislatura no Parlamento Europeu. Mas nada que demova Melo de vestir o fato de entertainer que tem de manter a continuidade do espetáculo, ao ponto de tirar selfies com turistas e entrando depois em marisqueiras e lojas de roupa à procura de potenciais votantes.

Nas margens do desfile, Pedro Mota Soares, número dois da lista de candidatos, vai tentando distribuir panfletos. Por seu lado, a número três da lista, Raquel Vaz-Pinto, enceta alguns diálogos com transeuntes. Na comitiva destacam-se também o deputado Nuno Magalhães e o ex-dirigente Adolfo Mesquita Nunes. Ao todo são cerca de uma centena de militantes, sobretudo da Juventude Popular, os mais entusiastas, cantando “a vitória de Nuno Melo” por toda a rua Augusta. Mas o centro das atenções está mesmo na banda. A arruada torna-se uma atração turística, com um ligeiro travo pícaro emanado das bandeiras (do partido e da República) e do som de fanfarra. Os turistas fotografam e filmam. Isto é política-espetáculo.

 

O boom turístico e o espírito de 2017

“Foi uma ação de campanha talvez na rua mais europeia de Portugal, com oportunidade de falar com pessoas portuguesas e outras que são europeias e vão votar”, explicaria mais tarde Melo, já depois de tirar uma fotografia ao lado de um mimo vestido de noiva. Para o cabeça-de-lista do CDS-PP, a rua Augusta ilustra alguns dos principais benefícios do projeto de integração europeia, nomeadamente “a livre circulação de pessoas e bens” e “a explosão do turismo”.

Não por acaso, Mesquita Nunes, um dos principais impulsionadores desse boom turístico em Portugal (no desempenho do cargo de secretário de Estado do Turismo, entre 2011 e 2015), marcou presença na iniciativa. E Melo não deixou de lhe atribuir justamente esse mérito, em declarações aos jornalistas. Mas a outra face da moeda do passado recente do CDS-PP no anterior Governo também apareceu na Baixa de Lisboa, através de uma senhora que abordou Cristas a meio da arruada, criticando-a por causa da denominada “lei das rendas”.

No final, Cristas relativizou essa situação, admitindo que “não foi tudo perfeito” na mudança da “lei das rendas” em 2012, mas recordando que “a cidade estava decrépita”. Quanto à arruada, mesmo não tendo servido para transmitir a mensagem política do CDS-PP a muitos potenciais votantes, pelo menos terá sido um tónico de entusiasmo para as hostes do partido, como que reavivando o espírito da campanha para as eleições autárquicas na capital em 2017.

“Provámos em Lisboa que não havia impossíveis”, lembrou Cristas, questionada sobre as mais recentes sondagens. “Todos achavam que havia, nós provámos que não havia. Eu continuo a acreditar que não há impossíveis, nas europeias e nas legislativas”. No domingo saber-se-á se tais sondagens voltaram a subestimar o CDS-PP, ou se desta vez era mesmo impossível.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.