No cinquentenário do 25 de Abril, prestamos homenagem a um dos principais responsáveis pela introdução da moderna macroeconomia em Portugal — Francisco Pereira de Moura. Nascido a 17 de abril de 1925, viria a falecer em 6 de abril de 1998, com 73 anos de idade, três meses antes da criação, a 2 de julho, da Ordem dos Economistas, cujas comemorações dos 25 anos decorrem até ao final de maio.

Tomámos conhecimento, recentemente, através da sua filha mais velha, Emília Moura, de uma carta que o Prof. Pereira de Moura, na qualidade de membro do Colégio Eleitoral do Presidente da República, em 1965, enviou aos restantes membros desse Colégio dez dias antes da eleição, marcada para 25 de julho. Nessa carta eram discutidas as grandes questões da sociedade portuguesa de então, da legitimidade do sufrágio indireto, introduzido na sequência da candidatura do General Humberto Delgado nas eleições anteriores de 1958, à guerra colonial e as relações internacionais, passando pela liberdade política, a problemática social e a situação económica.

É um texto notável, sobre a situação política do País. Um exemplo paradigmático de que a responsabilidade de um Economista exige uma dimensão social e ética que, no caso do Prof. Pereira de Moura, implicou sérios sacrifícios pessoais, familiares e profissionais que levaram, inclusive, à sua detenção e expulsão da Universidade, na sequência da vigília contra a guerra colonial, realizada na Capela do Rato, no final de 1972. Uma expulsão que só seria revertida, precisamente, na sequência do 25 de Abril, em 1974.

Francisco Pereira de Moura foi uma referência intelectual e política, que influenciou sucessivas gerações de economistas, incluindo aqueles que estiveram ligados às grandes opções desenvolvimentistas e de abertura económica à Europa, nas décadas de 60 e 70 do século passado, com os chamados Planos de Fomento e que influenciaram as próprias ideias que conduziram ao 25 de Abril. Fez parte do primeiro, quarto e quinto governos provisórios, tendo contribuído para a normalização da vida política. Depois disso, regressou à vida académica, no ISEG, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento científico e a internacionalização da sua Escola de sempre.

Na situação complexa que o País atravessa, figuras como o Prof. Francisco Pereira de Moura continuam a ser uma referência. Desde logo para a intervenção dos Economistas, a quem se exige um esforço acrescido de rigor, competência e ética no exercício das suas responsabilidades profissionais. Mas, também, no plano da ação política, onde se requer capacidade de diálogo, de responsabilidade e de convergência no sentido do interesse público.