Estamos há 50 dias confinados e limitados;

Estamos há 50 dias desconfiados e muito preocupados;

Estamos há 50 dias a assistir ao sofrimento de muitos Portugueses;

Estamos há 50 dias sem vermos os nossos País, Avós, Irmãos e Amigos;

Estamos há 50 dias a agradecer, muito, a todos os médicos, enfermeiros e auxiliares de saúde;

Estamos há 50 dias a ser confrontados com mais de 200 leis, decretos-leis, portarias, regulamentos e regras que nem os juristas percebem;

Estamos há 50 dias a pressionar os nossos contabilistas e juristas para podermos perceber as regras e os possíveis apoios, supostamente, existentes mas inexequíveis;

Estamos há 50 dias a viver uma expectativa diária, com apresentação de várias medidas e apoios que, na práctica, depois, não se verificam;

Estamos há 50 dias a confiar no nosso Estado que nos exige mas que depois não cumpre;

Estamos há 50 dias a cumprir, enquanto cidadãos, e a assistir à classe política a não cumprir com as regras mínimas (vide as cerimónias que todos assistimos);

Estamos há 50 dias a aguardar uma resposta digna para as angústias das nossas equipas (que são famílias) e que não merecem o que estão a passar;

Estamos há 50 dias a aguardar que as famosas linhas de apoio cheguem, efectivamente, às empresas e, por isso, às famílias e às pessoas;

Estamos há 50 dias a assistir à reorganização, transformação e adaptação das empresas, em especial da industria, para a garantia das necessidades de todos;

Estamos há 50 dias a ser geridos por uma classe política que, muitos, provavelmente, nunca criaram postos de trabalho, nunca criaram ou geriram uma empresa e nunca transformaram uma ideia num negócio;

Estamos há 50 dias a partilhar ideias, sugestões, medidas e a ver tudo na mesma; sem agilidade, rapidez e a transparência obrigatória e necessária;

Estamos há 50 dias a assistir à hipoteca do nosso futuro; um futuro da geração, da qual faço parte e que terá de pagar a dívida que a geração vigente está a contrair;

Estamos há 50 dias, em sobrevivência, por nós, sem apoios concretos e viáveis;

Estamos há 50 dias a assistir a uma enorme falta de transparência;

Estamos há 50 dias a ansiar que os cientistas descubram a vacina necessária;

Estamos há 50 dias a viver uma guerra inimaginável!

Passados 50 dias, pouco ou nada aconteceu.

Porquê? Para quê?

Espero que não seja por poder.

 

Vouzela, 1 de maio de 2020

Bernardo Theotónio-Pereira