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O “Tubarão” e a história por detrás da história

Após ter recebido informações diversas de forma anónima, o OJE prometeu uma investigação sobre os negócios do mais recente “Tubarão” da SIC, Marco Galinha, um até agora desconhecido pequeno empresário que passou a figura pública ao aceitar ser membro de um painel televisivo que apoia jovens empreendedores a lançar os seus projetos. 
2 Maio 2016, 00h58

À redação do OJE chegaram informações de negócios mal explicados e de processos em tribunal relativos ao grupo Respol. Como nos cabe fazer, questionámos os visados e obtivemos respostas que temos a obrigação de dar a conhecer ao leitor. Em causa está uma luta de poder pelo controlo de uma das mais importantes unidades industriais portugueses, com fábricas em Portugal e no estrangeiro e que opera no setor das resinas e polímeros, sendo um dos maiores operadores europeus.

Há visados nas investigações jornalísticas que entendem o nosso papel. Recebemos informações e colocámos questões a todos aqueles a quem a informação respeita. Alguns, como Marco Galinha, responderam às nossas questões. Desde as pessoais às empresariais. Outros, como o Conselho de Administração da Garval, Sociedade de Garantia Mútua, SA, preferem, numa carta não assinada, ameaçar o jornal pelo facto de lhes colocar questões. Pois bem, o OJE não se amedronta. As questões que colocámos são legítimas e foram elaboradas com base na informação que recebemos. Talvez a Garval preferisse que não questionássemos a empresa sobre as situações em que entendemos ser visada. Revelou-se, contudo, esclarecedor o nosso modo sério de proceder, isto é, revelou-se o jornalismo sério. Há dúvidas? Pergunta-se! Quem não deve, não teme e responde. Quem ameaça é porque tem algo a temer. O Sr. Dr. Pedro Seabra, da Comissão Executiva da Garval, pode ter treze mil clientes mas não deixa de ser um cidadão e, como tal, de poder ser visado por um conjunto de perguntas que o direito à informação permite fazer. Outro visado, a Respol, também respondeu às nossas questões. De forma redonda, mas não deixando de colocar o dedo na ferida ou nas feridas. A divergência entre Marco Galinha e o seu “sócio” é patente nas respostas de um lado e outro. Aos tribunais caberá decidir. Ao OJE cabe informar o leitor.

Quanto às perguntas que foram colocadas ao gestor e empresário Marco Galinha e que incidem sobre o conflito que tem com seu sócio, responde ao OJE que, do seu grupo empresarial de mais de uma dúzia de entidades, fazem parte a Leirivending e outras empresas. Confirma que “existe, de facto, um diferendo com o meu antigo sócio na Tabaqueira Bel II, Manuel Barbeiro Costa, que deu origem a um conjunto de processos em tribunal relativos ao aumento de capital da Leirivending”. Diz ainda: “Posso desde já negar-lhe a veracidade de todas as insinuações que o meu sócio incorporou no processo e a que, segundo depreendo pelo teor das suas perguntas, o jornal OJE terá tido acesso”.

Acrescenta que “essa é apenas a visão parcial de alguém que, não querendo aguardar pela decisão dos tribunais, optou por um lavar de roupa suja público nos jornais e com o único objetivo de denegrir a minha imagem e pôr em causa o meu bom nome, com base em mentiras e insinuações”. A terminar as suas respostas, diz que caberá ao tribunal decidir quem tem a razão do seu lado e pede que, “até lá, e no escrupuloso cumprimento dos preceitos da Lei de Imprensa, peço-lhe que se abstenha de colaborar neste atentado ao meu bom nome e à minha reputação”. Ora, o OJE publicou factos e não insinuou nem desrespeitou o Sr. Marco Galinha, como o próprio confirma: existem processos e acusações. As decisões serão judiciais mas os leitores têm o direito de saber o que uma figura pública faz, para o bem e para o mal. O OJE sabe que o gestor já ganhou dois dos processos que lhe foram movidos, sendo o último relativo ao inquérito judicial às contas da Bel II, e ainda não perdeu nenhum.

A Respol, outro dos visados nos documentos que chegaram ao OJE, também respondeu às questões que colocámos. Explicou ao OJE que “o Sr. Galinha nunca foi, nem é, acionista do grupo Respol e muito menos dos principais acionistas. Não obstante, aquando da constituição de uma das sociedades do grupo Respol, o Sr. Galinha concordou em dar o nome para figurar, durante pouco tempo, como um pequeno acionista”, que “o Sr. Galinha nunca foi acionista da Forchem e muito menos um dos principais”. A Respol diz ainda que “o Sr. Galinha nunca foi CEO do grupo Respol, foi apenas uma das muitas pessoas que deram colaboração ao Sr. Costa – o sócio com quem está desavindo”.

A Respol diz que, quanto a processos em curso, não tece qualquer comentário. Os tribunais decidirão. Pelo menos nisto concordam. Mas a questão da Leirivending e da Tabaqueira Bel II é a que levam os responsáveis da Respol a ser mais duros na resposta. Quando questionados sobre de quem são as sociedades e quem as controla, dizem claramente que “o caso da Leirivending é especialmente escandaloso, pois essa sociedade foi adquirida a 100% pela Tabaqueira Bel II, que é do Sr. Costa e do Sr. Galinha em partes iguais. O Sr. Galinha não pagou a parte dele do preço. E depois, através de artifícios societários que são inválidos e ilícitos, conseguiu, temporariamente, ter a maioria e o controlo dessa sociedade. É falso que o Sr. Galinha tenha adquirido recentemente a Leirivending e o recente acréscimo à coleta de impostos da Tabaqueira Bel II, determinado pela Autoridade Tributária, pelo montante e pela extensão das infrações fiscais, são um claro exemplo da sua forma de gestão em proveito próprio”. A história contada pelo gestor Marco Galinha é diametralmente oposta, mas deixa o esclarecimento para os tribunais. Haverá decisões judiciais a sair em breve.

Por último, questionado sobre o papel da Garantia Mútua nestes litígios, a Respol afirma que só tem “a referir que a Garantia Mútua e o seu presidente desempenharam um papel muito importante na obtenção de financiamento em Portugal para a aquisição da Forchem”, lamentando que este processo entre partes tenha chegado ao conhecimento dos jornais e referindo que estes assuntos “só aproveitam aqueles que sabem que irão perder em tribunal e querem ‘vingar-se’ nos media”.

Na edição da semana passada, o OJE prometeu aos leitores voltar ao tema. O OJE cumpriu. Informação objetiva e isenta, como deve sempre ser.

Por Vítor Norinha/OJE

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