No último Conselho Nacional do CDS, Assunção Cristas surpreendeu pela positiva ao submeter aos conselheiros do partido um documento regulador do processo de escolha das listas concorrentes às próximas legislativas. Mostrando a consciência de que os partidos não podem continuar fechados sobre si próprios e em contradição com a realidade onde vão a votos, o documento é específico na garantia da renovação, na diversidade etária e de género, na pluralidade de competências específicas e, muito importante, na representatividade territorial e participação das estruturas de cada distrito no processo de escolha.

Tudo isto estava previsto numa moção que subscrevi com o Filipe Lobo d’Ávila e outros militantes, e que apresentámos ao partido há três anos no Congresso de Gondomar, tendo na altura sido entregue à recém-eleita presidente Assunção Cristas. Faltou apenas reduzir a cativação nacional dos lugares de Lisboa e Porto, para que houvesse um acordo pleno no espírito deste processo. Tive francamente pena de não poder votar favoravelmente este documento, e lamento a recusa de ajustamento ou votação fraccionada do mesmo, para poder reunir um consenso ainda mais legitimador.

Poupo ao leitor o deprimente desfile dos eternos dependentes em contorcionismo auto-justificativo, esperando passar entre os espaços do novo crivo. Todos elogiam o novo documento da presidente, desde que não lhes seja aplicado. É exactamente o mesmo em todos os partidos, talvez por isso mesmo, se ressintam todos do divórcio com o Povo.

A tarefa de Cristas é difícil, se quiser ser séria no cumprimento do documento que fez aprovar. Mostrar um CDS efectivamente renovado, com um número impressivo de novos rostos, de idades diferentes, de áreas do saber diferenciadas, com carreira profissional prévia de mérito, de diferentes origens geográficas, encontrando novos palcos de intervenção política onde o conhecimento acumulado ao longo de sucessivos mandatos pelos putativos cessantes seja devidamente aproveitado e valorizado, é um desafio exigente, mas seguramente inovador e compensatório.

Medidas pontuais e modestas, cedências a pressões, amiguismos ou dependências, matarão o documento e ferirão irremediavelmente a credibilidade de quem o propôs. Esta é uma oportunidade única a seguir com atenção por todos os actores políticos, mas também pelos eleitores.

O jornalismo de sarjeta

A TVI, dando corda a uma das suas assalariadas dispostas a tudo, tem sido palco de um aberrante espectáculo de desinformação e degradação do papel do jornalismo. Ana Leal, qual braço armado de um novo terrorismo televisivo, infringe a lei, manipula informação, assassina carácteres, impõe agendas obscuras, desrespeita os mais indefesos, na expectativa de vender o sangue das vítimas por um preço elevado.

Dei-me ao incómodo de ver o programa e subsequente debate sobre as alegadas teorias de reconversão da homossexualidade. Não queria acreditar na invasão do confessionário, na violação da confidencialidade das consultas de psicologia, na traição ao grupo de apoio.

Quem faz isto não pode continuar a manter a carteira profissional, por violação explícita de todos os códigos de conduta e ética do jornalismo. Quem transmite tem de ser exemplarmente punido, sob pena da quebra de confiança indispensável entre público e media. É urgente e indispensável conhecer a accção e consequências do Sindicato dos Jornalistas e do seu Conselho Deontológico, bem como da ERC.

Não é novidade o recurso a este e outros tipos de terrorismo comunicacional para servir a consolidação da ditadura de género. Segundo esta cartilha, comportamentos como a homossexualidade devem ser estimulados e não seriamente enquadrados; quanto mais diluição do modelo de sociedade vigente, melhor.

No que ao caso concreto diz respeito, acho normal e desejável disponibilizar aos jovens e adultos que se encontrem em processo de indefinição ou dúvida quanto à sua orientação sexual, todo o tipo de apoios para que se possam encontrar e decidir em liberdade, em responsabilidade e em verdade. Por diferentes motivos, e de diferente natureza, o ser humano enfrenta os dilemas mais variados ao longo da vida; é muitíssimo importante que os possa resolver sem obediência a agendas exógenas, a correntes de experimentalismo social, à ditadura implacável de alguns.

Sinais de civilização

Como última nota, um enorme regozijo. Diz-se que um ser, depois de experimentar a liberdade, jamais pode ser encarcerado sem desistir de lutar pela liberdade que experimentou. Acontece o mesmo com a civilização.

Ao ver centenas de milhares de pessoas em manifestação pacífica em cidades europeias e americanas, com particular destaque para Paris e Washington, em defesa da vida, rejeitando a chaga social do aborto livre, só posso reforçar a convicção de esperança na humanidade.

Até 31 de Dezembro, 41,9 milhões de crianças foram mortas antes de nascerem. Como comparação, 8,2 milhões de pessoas morreram de cancro em 2018, ou seja, cinco vezes menos que o total de bebés que foram abortados no mesmo período. Ao longo desses mesmos doze meses, cinco milhões de pessoas morreram em decorrência do vício tabágico e 1,7 milhões por complicações relacionadas com a Sida.

Basta!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.