Em Portugal existem cerca de 1,8 milhões de pessoas com deficiência, que enfrentam desafios especiais entre os quais uma taxa de desemprego que é mais de três vezes superior à média nacional. A Associação Salvador e a empreendedor por trás do marketplace BindTuning consideram que o tecido empresarial tem estado a incluir mais trabalhadores com limitações, sobretudo neste contexto de teletrabalho, e a investir em ferramentas tecnológicas que auxiliem nesse processo.
“Acho que os principais desafios são sobretudo ao nível das acessibilidades. Uma pessoa para poder ser livre, para poder ter uma vida também ativa, tem de conseguir sair de casa, ir fazer fisioterapia ou a um centro de saúde. É muito complicado se não tiver à sua volta um ambiente preparado”, constatou esta quinta-feira Salvador Mendes de Almeida, fundador da Associação Salvador, na conferência “Building The Future”, que decorre até amanhã em formato híbrido.
Ao contrário de Salvador de Almeida, que tem uma deficiência motora, Beatriz Oliveira, fundadora e CEO da BindTuning, sofre há mais de 20 anos de epilepsia, uma patologia considerada incapacidade invisível. Na sua opinião, doenças deste género representam um “desafio enorme e acrescido para as empresas”.
“Cerca de 90% das pessoas com incapacidades invisíveis tendem a não querer que se saiba no seu local de trabalho que sofrem de uma limitação. O facto de estas incapacidades não serem endereçadas causa enormes problemas em termos de produtividade e de inclusão da própria pessoa”, referiu a diretora da empresa parceira da Microsoft, que desenvolveu plataformas para criar locais de trabalho digitais conectados para o Office 365.
Beatriz Oliveira, que em 2020 foi distinguida fundadora do ano pela Portuguese Women in Technology, destaca que os países da desenvolvidos tendem a ter uma percentagem maior de pessoas com incapacidade, porque são detetadas pelos sistemas de saúde mais evoluídos, como é o caso dos Estados Unidos, com 25%.
“Em algum ponto da nossa vida vamos sofrer de algum tipo de limitação, seja ela permanente e visível ou temporária. Quando pensamos no mercado de trabalho também as invisíveis afetam o nosso desempenho”, sublinhou no painel “Tech for Inclusion”, moderado por Ricardo Santos Ferreira, subdiretor do Jornal Económico. “A acessibilidade é um motor de inovação. Tragam para este processo as pessoas com incapacidade, porque sem elas nunca haverá verdadeiras soluções”, apelou.
A Associação Salvador trabalha também nesse sentido, de alerta às organizações, com projetos de empregabilidade que desenvolve há cinco anos, tendo conseguido ajudar a integrar 200 pessoas no mercado de trabalho. O fundador da associação garante que as empresas têm procurado incluir pessoas com deficiência nos seus quadros, mas por vezes esperam demasiado tempo até contratar trabalhadores com limitações por querer ter as instalações 100% adequadas. “Não precisam de ter logo uma casa de banho adaptada”, esclareceu.
“Tem de haver um equilíbrio porque há muitas pessoas com deficiência que não têm formação para estar numa empresa”, disse Salvador de Almeida. “As novas tecnologias vieram ajudar imenso. Uma das questões que é uma grande oportunidade para todas as pessoas com algum tipo de limitação é a sua formação, pois vai permitir combate a taxa de desemprego nas pessoas com deficiência, que ainda é muito alta”, sublinhou. Beatriz Oliveira deu alguns exemplos de sistemas que permitem pessoas com pouca mobilidade fazerem slides no PowerPoint através de poucos clicks.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com