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Indústria da pedra natural: “Portugal tem forte tradição e é capaz de responder aos maiores desafios mundiais”

“A ambição deste hub para a Inteligência e Tecnologia Industrial é liderar as principais iniciativas internacionais para o desenvolvimento do setor, com vista a tornar-se numa referência para qualquer projeto que utilize pedra natural à escala global”, revela Miguel Goulão ao JE sobre a criação do hub tecnológico de pedra natural.
  • Foto cedida
27 Fevereiro 2020, 08h10

A indústria da pedra natural é uma das que tem maior destaque em Portugal. Desta forma, a associação dos recursos minerais Assimagra, a Câmara Municipal de Sintra e o Instituto Superior Técnico desenvolveram o primeiro hub tecnológico dedicado à pedra natural.

A criação do centro tecnológico StoneCITI vai permitir conceber, testar e validar novas tecnologias de produção associadas à indústria, sendo ainda criado um centro laboratorial para desenvolver e testas novas soluções e produtos, um centro de inteligência multidisciplinar para o projeto, simulação e desenvolvimento de novos materiais, produtos e processos de fabrico.

O Jornal Económico falou com Miguel Goulão, vice-presidente executivo da Assimagra para perceber em que consiste este novo projeto, a reabilitação do antigo edifício Pêro Pinheiro e o investimento previsto para o desenvolvimento do hub tecnológico.

Como definem o potencial da indústria da pedra natural em Portugal?

Estamos a falar de uma indústria que integra um saber-fazer, uma perícia passada de geração em geração, em que Portugal tem uma forte tradição e capacidade de responder aos maiores desafios mundiais em termos de aplicações da pedra, na arquitetura, no design, os empresários portugueses posicionam-se ao nível dos melhores do mundo.

Em termos de exportações estamos convencidos que ultrapassaremos a barreira dos 400 milhões de euros, ainda não temos os dados de 2019 fechados, mas a acontecer será um facto inédito, histórico mesmo, que revela que estamos no bom caminho na promoção da pedra natural portuguesa. Já em 2018 tínhamos batido um recorde em termos de exportações e este ano voltamos a fazê-lo.

Temos um volume de negócios ligeiramente acima de mil milhões de euros, que cresce interruptamente desde 2013, contamos com mais de 16.000 empregos diretos repartidos por 2500 empresas. Nas exportações o setor cresce ano após ano, na última década mais de 23%.

Quais os valores associados ao investimento neste projeto?

Os valores associados ao StoneCITI são, desde logo, a reabilitação da antiga fábrica de Pêro Pinheiro, ex-libris da arquitetura industrial, uma área de mais de 18 mil metros quadrados em estado devoluto, é alvo de um investimento superior a 10 milhões de euros – mais de sete milhões de euros em obras e 2,5 milhões de euros em equipamentos.

Mas há outros números importantes a considerar, nomeadamente a ambição que o setor tem de até 2030 criar de mais de 10 mil postos de trabalho diretos e mais de 35 mil indiretos.

Com a diversificação e melhor aproveitamento nos usos da pedra natural, podemos valer mais de 1% do PIB Português, e mais que duplicar as exportações, de 400 milhões para 1000 milhões de euros nos próximos 10 anos, isto claro se conseguirmos ter acesso ao território, somos um setor que para existir precisa obrigatoriamente de aceder ao recurso.

Quais os objetivos deste hub tecnológico?

As áreas com especial enfoque no StoneCITI são a tecnologia, o marketing e a valorização das matérias-primas, desenvolvendo projetos inovadores de implementação rápida, através de ações de transferência tecnológica e qualificação avançada.

Simultaneamente, o StoneCITI irá promover a criação de novos e melhorados processos de transformação, desenvolvimento de novos materiais e produtos através quer da valorização, quer do reaproveitamento dos recursos existentes, bem como contribuir para formação de uma nova geração de recursos-humanos, qualificados para continuar a incrementar o valor acrescentado na utilização da pedra natural.

Juntamente com o Instituto Superior Técnico, na área da formação, a Assimagra haverá uma correspondência entre aquilo que se procura e pretende nas empresas em concreto e o tipo de competências que as pessoas demonstram, sendo os resultados obtidos na pesquisa realizada no StoneCITI transformada em valor para empresas e profissionais do setor.

O StoneCITI trabalhará com as empresas para resolver rapidamente as respetivas necessidades e principais desafios ao nível industrial, procurando criar, testar e validar, em conjunto com as empresas, tecnologias e produtos, que visam o incremento da sustentabilidade na utilização da matéria-prima.  O modelo é semelhante ao de um hubs para startup no sentido em que promove o desenvolvimento e teste de ideias para implementação de novas tecnologias/ modelos de negócio.

A ambição deste hub para a Inteligência e Tecnologia Industrial é liderar as principais iniciativas internacionais para o desenvolvimento do setor, com vista a tornar-se numa referência para qualquer projeto que utilize pedra natural à escala global.

Queremos valorizar a matéria-prima através da criação de novos produtos, incrementando a relação da indústria com a cadeia de valor – arquitetos e designers –, mas também que contribuam para uma maior eficiência nos produtos e que a sustentabilidade e a maximização do aproveitamento mante do recurso que é a pedra natural, e ao nível das novas tecnologias, software sensorização, IoT, implementar novos softwares para aplicar na nova economia digital, com integração de produtos na construção e em  edifícios inteligentes, assim como a monitorização e controlo de soluções de fabrico.

O que pode significar para a região um crescimento do setor?

A sustentabilidade da extração é uma realidade prosseguida pela Assimagra e todos os associados. Pêro Pinheiro, enquanto localização tradicional de muitas empresas do setor, pode ser o ponto de partida ideal, tendo em conta a proximidade a Lisboa, para criar um efeito de contágio e alargar a implementação dos resultados das experiências e pesquisas levadas a cabo no StoneCITI a nível nacional e, mais tarde, internacional. Trata-se da recuperação de uma zona em que este pólo pode servir de atração a um público académico jovem, vindo da capital, possibilitando formar recursos humanos muito valiosos para o setor.

Reabilitar Pardal Monteiro, a primeira ação que faz nascer o StoneCITI, tendo em conta que se trata da primeira fábrica industrial de pedra em Portugal e que também foi um edifício idealizado pelo arquiteto Porfírio Pardal Monteiro, é um marco que remete para Pêro Pinheiro, mas, mais do que isso, para a arquitetura e indústria nacionais.

O que é que Portugal pode oferecer como know-how neste setor?

Portugal tem tudo para oferecer. Conforme referi são gerações e gerações a trabalhar a Pedra em Portugal, que conhecem a matéria-prima como ninguém, sabem trabalhá-la nas várias vertentes e aplicações e que verão potenciado o seu saber através do StoneCITI. Este património cultural e de conhecimento tem de ser aproveitado, queremos potenciar o nível de formação existente em 10 vezes mais.

Com os programas adequados, promovemos a qualificação sectorial, com o desenvolvimento de projetos de formação aplicada, pensados em conjunto com as principais Escolas, Institutos e Universidades, sempre em interação com o tecido empresarial e permitindo também às empresas testar as respetivas soluções, tecnologias e ideias, no StoneCITI, antes de partir para aplicação. O StoneCITI tornar-se-á um KET (Key Enabling Technology) Technology Centre, fixado em três pilares, nomeadamente a Inovação, a Formação e as Empresas.  Tudo o que for feito no StoneCITI sairá com um selo de futuro assegurado.

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