O turismo tem sido o motor da economia portuguesa na última década. Foi o sector que permitiu fugir da crise financeira e económica e virar a tal página da austeridade, depois da intervenção da troika, e foi o apoio, também, para a recuperação a seguir ao recente período da pandemia de Covid-19.

No ano passado, Portugal terá recebido um recorde de 26,5 milhões de turistas não residentes, mais 7,7% do que em 2019, o último ano antes da pandemia, e mais 19,2% do que em 2022, segundo o Instituto Nacional de Estatística. Foram alojados 30 milhões de hóspedes e o número total de dormidas superou os 77 milhões. Metade do crescimento da economia portuguesa em 2023 deveu-se ao contributo do turismo, que nunca pesou tanto no PIB como agora, chegando aos 12,7%, mais do que é a média europeia, e representando quase 40 mil milhões de euros. Notável, uma verdadeira galinha dos ovos de ouro, criada em tempo oportuno.

A expectativa é de que este ano seja tão bom ou ainda melhor do que foi 2023 e os números que são conhecidos alimentam essa ambição. Nos primeiros seis meses deste ano, o número de turistas estrangeiros que entraram em Portugal cresceu 7,5%, transformando este período no melhor primeiro semestre de sempre para o turismo português.

A questão que se coloca é até onde pode crescer o turismo em Portugal e como, porque se até agora o foco se centrava nos benefícios e a discussão na eliminação dos entraves ao crescimento – veja-se a retórica em torno da decisão sobre o novo Aeroporto de Lisboa –, nos últimos tempos começaram a despontar críticas à intensidade turística em algumas zonas, seguindo, aliás, o que acontece em alguns pontos na Europa.

A intensidade turística em Lisboa supera a de Barcelona, com 10 turistas por habitante contra nove na cidade catalã, onde se realizaram manifestações e onde foi aprovado acabar com os alojamentos locais até 2028, por causa do impacto nos preços da habitação, mesmo que a proporção de casas afetas ao negócio seja apenas um quarto do que se regista na capital portuguesa. O Porto também está na lista das cidades mais sobrecarregadas e o Algarve também regista uma grande intensidade face a regiões europeias onde já foram adotadas medidas de contenção.

O que vemos é a ausência de gestão, a não ser na resposta à crise – como aconteceu com a tentativa de resposta à subida dos preços da habitação. Temos concelhos em que a oferta já cria problemas, como Lisboa, e outros, mesmo ao lado, em que é virtualmente inexistente, como Almada.

Mais do que a ferramenta que tem constituído a taxa turística – mais orçamental do que de gestão – é obrigatório que passe a existir planeamento, integrado, a nível municipal e regional, que permita, por exemplo, a diversificação e, também, a adequação dos serviços aos fluxos, como o fornecimento de água ou a saúde. Isto, para permitir que o sector continue a desenvolver-se e não seja travado, entre todos os problemas, por inevitáveis crises políticas, que acabam mal resolvidas, como acontece com a habitação, e contribuem para a morte da galinha dos ovos de ouro.

Ignorar o que tem acontecido, achando que só acontece lá fora não é uma boa ideia. Até porque alguém se lembrará de que os turistas não votam.