Há precisamente 12 anos, em agosto de 2011, a agência de rating S&P Global cortava o rating dos EUA, e retirava-lhe o tão ambicionado “AAA”. Agora é a vez da Fitch.
Para percebermos a importância destas decisões, importa entender o que fazem as agências de rating. Cada entidade emitente, seja supranacional, no caso do Fundo de Estabilidade Europeu, ou nacional, no caso de governos ou empresas, está sujeita à necessidade de atribuição de um grau de probabilidade de incumprimento da dívida, ou seja, capacidade de honrar o compromisso de pagamento da dívida e dos juros associados.
Este trabalho, realizado pelas agências de rating, envolve estudar a sustentabilidade financeira dos emitentes, desde as contas internas às externas, investimento, peso dos juros nos impostos ou nas receitas, cumprimento de objetivos ambientais, a estrutura e capacidade de decisão, nomeadamente, implementação de reformas e impacto social entre muitas outras.
No fim, é atribuída uma notação de rating que serve de orientação e suporta o juro pedido pelos investidores.
Ora, os EUA têm beneficiado de uma posição única, na medida em que, enquanto líderes mundiais incontestáveis em tecnologia, defesa, economia, e moeda de reserva mundial, têm emitido dívida sem qualquer problema. No entanto, nos últimos anos, a emissão de dívida aos triliões tem-se sucedido a um ritmo alarmante.
Em outubro de 2022, a dívida pública tinha atingido os 31 triliões de dólares, e bastaram oito meses para serem atingidos os 32 triliões.
A preocupação da Fitch faz todo o sentido e percebe-se, pois nem o crescimento económico está a diminuir o défice orçamental, que no ano fiscal de 2023 se estima poder atingir 1,4 triliões de dólares, valores apenas registados no período da pandemia. Ou seja, o crescimento dos EUA está suportado em estímulos fiscais financiados por dívida, e apesar de não estar em causa o cumprimento da dívida, existe um problema de sustentabilidade que tem de ser endereçado pelo Congresso americano.
O impacto no mercado não se fez esperar e foi a desculpa perfeita para os investidores venderem ativos de risco. As taxas de juro de longo prazo nos EUA continuam a subir, no que é um alerta sério a um novo mundo, onde o custo do dinheiro irá condicionar muitos negócios e o crescimento futuro das economias e empresas mais frágeis.
Mas o principal número a reter é a emissão de mais 1,8 triliões de dólares até fim do ano, o que não deixa de ser uma ameaça ao crescimento mundial, uma vez que os investidores vão exigir taxas mais elevadas.