No passado dia 25 de Janeiro acedi como habitualmente ao website do Jornal Económico e deparei-me com um título anunciando que o BCE está pronto para prolongar a política de estímulos à economia. Percorrendo o website vi logo de seguida a notícia que o Bankinter, um dos bancos mais sólidos a trabalhar em Portugal, já tem 400 imóveis em carteira por incumprimento de crédito. O valor rondará os 40 milhões de euros, o que não é pouco quando sabemos que o banco teve um lucro de 495 milhões em 2017.

Continuei a descer e li que a “avaliação bancária das casas sobe em Dezembro e aproxima-se do máximo de 7 anos” para, logo de seguida, me deparar com outro título: “ouro pode estar a caminho dos 1.400 dólares e renovar máximos de 2013”. A razão subjacente a esta nova corrida é, de acordo com a mesma notícia, a inflação tão desejada pelos governos socialistas e procurada pelos estímulos do BCE, mas que come os rendimentos, principalmente os dos mais pobres que não se podem refugiar no ouro ou noutros locais sem inflação.

Entretanto, nesse mesmo dia este jornal dava uma boa notícia anunciando que “Portugal reembolsa 831 milhões de euros ao FMI”. Claro que o facto desse reembolso ter sido planeado por Maria Luís Albuquerque, em Fevereiro de 2015, não vem agora muito ao caso, mas devia. Porque se viesse leríamos com mais cuidado a boa notícia do reembolso ao FMI com a fotografia de Centeno no topo e prestaríamos mais atenção às más notícias que referi em cima, que, por sinal, são de agora e não de 2009.

No passado dia 26 de Janeiro tive oportunidade de organizar uma tertúlia no Grémio Literário sobre a dívida pública no século XIX e as semelhanças com os dias de hoje. Os oradores foram Maria de Fátima Bonifácio e Rui Ramos, historiadores sobejamente conhecidos e verdadeiramente conhecedores da época em análise. Embora já soubesse que aquele século tinha sido negativamente marcado pela dívida, não deixou de ser deprimente ouvir os factos que comprovam o quanto um país não aprende, não quer aprender, com a história.

Bem sei que corro o risco de me repetir, mas é inevitável quando tudo se repete, seja o século XIX sejam os erros dos últimos 40 anos. Erros cometidos pelos que, quando a crise financeira se abateu sobre nós, foram os primeiros a apontar o dedo a esses mesmos erros acumulados e que juraram que não se podiam repetir, mas que agora os repetem, como nada se tivesse passado. Há aqui um “click” que falta que é o perceber que o Estado não serve para gerir favores pagos com dinheiro que nem sequer existe e que se cobra depois. A lógica do ganho imediato sem que nada se acrescente, o pouco valor que se dá ao interesse público apesar de ser o que mais se ouve à boca cheia são razões para a pasmaceira que se vive há séculos.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.