Um par de papalvos comprou uma banana colada na parede com fita adesiva por cento e vinte mil dólares a um artista que, num par de segundos, fez a obra e a venda do ano. Como se não bastasse, uns dias depois entrou na galeria outro artista e comeu a banana. Esta, sim, foi genial, uma verdadeira obra de arte.

Começando pelo princípio: Maurizio Cattelan colou uma banana na parede com fita adesiva e vendeu esta obra de arte, exposta na Galeria Perrotin de Miami. Estava a banana colada à parede quando David Datuna, artista também, a descolou, descascou e comeu, tudo registado pelos telemóveis de quem lá estava, explicando que era uma “art performance by me. I love Maurizio Cattelan artwork and I really love this installation. It’s very delicious.”

Foi chamada a polícia, mas o staff da galeria apressou-se a explicar que a obra de arte estava preservada, pois o que conta é o conceito. A banana havia de ficar podre, e seria substituída; a ideia é eterna. Para mais, a obra foi fornecida com um certificado de autenticidade, e é ele que confere o valor (o que levanta uma curiosa questão: o que foi comprado, a banana ou o certificado?). Cattelan já deve estar habituado a estas, pois foi roubada do Blenheim Palace, no Reino Unido, outra obra sua, uma sanita de tamanho natural em ouro, que o artista insistia que era para usar.

A arte é uma coisa subjetiva. Uma obra de arte para uns pode ser um gatafunho para outros. Veja-se o “Sem Título”, pintado por Basquiat em 1982, basicamente um crânio (ambos, a pintura e Jean-Pierre Basquiat), vendido por 110 milhões de dólares. Ou o “Untitled (Yelow and Blue)” de Mark Rothko, um quadro cuja metade de cima é amarela e a de baixo azul, vendido por 46,5 milhões. Dividir na vertical rende menos: o “Onement”, de Barnett Newman, duas metades verticais azuis separadas por um risco branco, só deu 43,8 milhões. Eu teria rodado o quadro 90 graus e repetido o leilão.

Isto não é nada comparado com o “Merda d’Artista”, de 1961, obra de Piero Manzoni, 90 latas da coisa com rótulos amarelos em várias línguas; pode comprar réplicas por pouco mais de 100 euros, mas não abra a lata! Pode fazer pior que o tipo da banana. Maxime Blanchard, um artista da atualidade, seguiu o pai (espiritual) e vende latas de spray de rótulo semelhante intituladas “Flatulência de Street Artist”. Se não gosta, não vá ver o “My Bed” de Tracey Emin, exposto na Tate em 1999 e vendido por 150 mil libras, ou a “Venus de Milo” de Zhu Cheng, no Henan Art Museum de Zhengzhou, que rendeu 45 mil dólares.

E, se for tótó, vá visitar o Museum of Non-Visible Art em Nova Iorque, onde verá as paredes brancas e as molduras vazias. Um dos quadros (basicamente, uma moldura), de nome “Fresh Air” foi vendido por dez mil dólares. Se tudo isto lhe parece um excesso, note que sai mais barato que o nosso Parlamento. Uma vergonha.